
“Onde há desejo, há um caminho. Desejamos a revolução mundial, logo, devemos encontrar o caminho de alcançar as massas das mulheres exploradas e escravizadas, sejam os contextos históricos fáceis ou difíceis.”
– Clara Zetkin, “Organizando Mulheres Trabalhadoras”. Novembro de 1922.
Em 20 de junho deste ano, realizam-se 92 anos do falecimento da grandiosa dirigente comunista Clara Zetkin. Com uma vida dedicada à emancipação da mulher proletária, Zetkin deve ser para sempre lembrada como um farol para as lutas por justiça pelos povos de todo o mundo.
Clara Josephine Zetkin (nome de batismo, Einer), nascida em 5 de julho de 1857 em Wiederau, na Saxônia, e falecida em 20 de junho de 1933, é uma das personalidades mais marcantes do movimento comunista do século XX. Ainda jovem ingressou no Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD) e, mais tarde, apostando em uma linha mais revolucionária dentro do partido, aproximou-se de personalidades como Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht. Devido à repressão anticomunista na Alemanha, Zetkin passou parte de sua vida no exílio, primeiro em Zurique e depois em Paris, onde seu envolvimento com o jornal e a difusão de ideias comunistas revolucionárias ganhou ainda mais força. Foi nesse período que sua voz se tornou uma das mais influentes na articulação do discurso internacionalista. Ao retornar à Alemanha, ela fundou o jornal Die Gleichheit (A Igualdade) em 1892, um veículo que educava as mulheres trabalhadoras sobre as condições de sua realidade, foi instrumento fundamental para a construção da consciência de classe entre a classe operária feminina.
Durante a Segunda Conferência Internacional das Mulheres Comunistas em Copenhague, Zetkin, juntamente com a líder bolchevique Alexandra Kollontai, propôs que uma jornada anual fosse dedicada à luta das mulheres do povo. Essa iniciativa culminou na primeira celebração do Dia Internacional da Mulher Proletária em 1911, desdobrou-se num movimento global que, posteriormente, teria o dia 8 de março como data emblemática.
O Dia Internacional da Mulher Proletária simboliza a vitória do proletariado feminino na conquista de direitos civis e políticos. Embora subvertida pela burguesia, que omite a todo o custo a origem do dia — excluindo o termo “proletária” deste —, o proletariado mundial jamais deverá esquecer-se o real significado desta emblemática data, sendo este a luta pela emancipação das mulheres proletárias e camponesas de todo o mundo, a luta pela superação da terceira montanha da opressão humana, o patriarcado.

Durante o período da Revolução alemã — englobando os eventos de 1917 a 1919, que levaram à queda do Império e à criação da República de Weimar — Zetkin, que já havia se destacado pela sua oposição à política de abstinência armada adotada por setores reformistas dentro do próprio SPD, posicionou-se de maneira incisiva no campo revolucionário. Indo em contramão do revisionismo do SPD, juntou-se ao Partido Social-Democrata Independente da Alemanha (USPD), sendo ela um dos membros fundadores da Liga Spartacus, que mais tarde daria origem ao Partido Comunista da Alemanha (KPD), onde atuou como destacada dirigente.
Durante e após este período, Zetkin aproveitou de sua posição como a representante alemã na Internacional Comunista e Secretária-Geral do Secretariado Internacional das Mulheres para enfatizar a importância de integrar as demandas femininas ao conjunto das reivindicações do proletariado. Em seus textos e discursos, ficou claro que para ela a emancipação do proletariado e do gênero feminino eram faces interligadas de um mesmo processo revolucionário, como diz em seu discurso durante a Segunda Conferência Internacional de Mulheres Comunistas em Moscou, em fevereiro de 1922:
“Ousaremos esquecer que somos comunistas? O comunismo une! Nosso lugar é na luta contra o monstro capitalista, no trabalho e na luta pela construção do edifício ensolarado do comunismo, no qual todos encontrarão um lar para a maior humanidade, tanto homens quanto mulheres, assim como na luta para a humanidade completa, devemos lutar pelas coisas que dizem respeito aos homens, bem como às que dizem respeito às mulheres. Diante de nossos pensamentos e vontades está uma grande reunião de milhões de todos os explorados, os escravizados, os sofredores e os oprimidos e uma sublime causa comum que chama à luta! Aqui o proletariado anseia por uma vida mais plena, ali a burguesia anseia por ouro e poder! Aqui o socialismo, o comunismo, que transforma as pessoas que criam e desfrutam da cultura em seres humanos plenos e felizes; lá o capitalismo usa as pessoas como matéria-prima para os lucros, as mancha, reduz seu padrão de vida, as aleija e as oprime. Com esta convicção, o Dia Internacional da Mulher Proletária quer conquistar as grandes massas para a luta pela causa do comunismo. Homens e mulheres sem distinção! A memória do feito glorioso das mulheres proletárias de Petrogrado em 8 de março deve flamular sobre o nosso Dia da Mulher como uma bandeira brilhante que indica o caminho e incendeia nossa coragem.”
– Clara Zetkin, “O Dia Internacional da Mulher Comunista”. Fevereiro de 1922
A atuação de Clara Zetkin marcou o caminho para que as lutas pelos direitos das mulheres proletárias se integrassem de forma duradoura na narrativa dos movimentos comunistas por todo o mundo. Zetkin foi uma grande internacionalista conectando as lutas dos povos de todos os mundos, e enfatizando a necessidade de superar as contradições internas dentro do movimento comunista, pavimentou o caminho para a emancipação dos povos de todo o mundo. Esta visão foi crucial para o desenvolvimento das ideias que permeiam a Internacional Comunista e que, mais tarde, contribuíram para a formação e consolidação do pensamento comunista revolucionário em todo o mundo — fazendo com que Clara Zetkin continue para sempre imortal nos corações e mentes de revolucionários de todo o mundo que lutam pela emancipação da mulher trabalhadora.