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Depois de reunir-se com o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky hoje em Washington, o presidente ianque Donald Trump afirmou que vai tentar marcar uma reunião trilateral entre os dois com a participação do homônimo russo, Vladimir Putin, para tratar sobre a guerra na Ucrânia. Ele também disse que “um acordo de paz é possível e pode ser feito em um futuro próximo”.
A reunião ocorreu entre 13h e 16h (horário de Brasília) e foi acompanhada de chefes de Estado das potências europeias. Oficialmente, o encontro busca “abrir caminho para a paz”, mas nos bastidores ganha força a hipótese de um acordo que envolve concessões territoriais da Ucrânia à Rússia – o que veículos e analistas internacionais já avaliam como um provável “fatiamento do território ucraniano”.
Segundo a Associated Press, no encontro prévio realizado na sexta-feira (15/08) no Alasca, Trump e Putin discutiram em paralelo um esboço de acordo no qual a Ucrânia aceitaria a perda da Crimeia e da região do Donbass, em troca de um recuo parcial russo nas zonas de Kherson e Zaporíjia. Agora, em Washington, seria a vez de pressionar Zelensky a aceitar os termos.
De acordo com o monopólio de imprensa Washington Post, Trump está decidido a encerrar rapidamente a guerra para reduzir os custos financeiros e militares do Estados Unidos (EUA), que já superam 200 bilhões de dólares desde 2022. “O presidente Trump quer virar a página da Ucrânia para concentrar seus esforços no Pacífico, na contenção à China”, afirma o jornal. Por outro lado, uma análise publicada no monopólio britânico The Times afirma que a Rússia intensificou ataques recentes nas regiões de Carcóvia e Zaporíjia justamente para pressionar os ianques a aceitarem termos mais favoráveis a Moscou.
Enquanto isso, Zelensky se vê cada vez mais acuado. Dependente quase que integralmente da ajuda militar e financeira do EUA e da OTAN – por ter confiado a defesa nacional no apoio externo e não na mobilização das massas para a construção de uma Frente Única de Resistência Nacional –, o governo ucraniano teme que Trump negocie sua soberania em troca de ganhos políticos e geográficos.
Para evitar isso, Zelensky continua a se apoiar no imperialismo, particularmente das várias potências europeias. O monopólio Wall Street Journal reportou que líderes da Alemanha, França e Polônia viajaram juntos para Washington como forma de mostrar a Trump que “ceder território à Rússia seria uma derrota não apenas para a Ucrânia, mas para todo o Ocidente”.
Ainda segundo a matéria, Zelensky entrou no Salão Oval “escoltado por seus ‘guarda-costas políticos’ do continente”, numa clara demonstração de que a Ucrânia tenta se apoiar no coro das potências imperialistas da Europa para endurecer a negociação. As potências europeias, no entanto, tem seus próprios interesses: ao resistir ao acordo pró-Rússia, buscam abrir espaço para ocupar posições estratégicas no Leste europeu e ampliar sua influência política e econômica sobre a região.
A dinâmica lembra outros momentos de crise na Otan. Em 2014, após a anexação da Crimeia, o EUA se mostrou relutante em ampliar sua presença no leste, abrindo espaço para que Alemanha e França assumissem protagonismo no Acordo de Minsk. “Agora, a disputa se repete: Trump deseja recuar, e as potências europeias veem nisso uma brecha para aumentar sua margem de manobra dentro do continente”, escreveu o monopólio Financial Times.
O problema central é que a Rússia não demonstra qualquer disposição em abrir mão das áreas já controladas, ao contrário: Putin pressiona por reconhecimento formal da ocupação. “Trump tentou vender a imagem de que pode ‘encerrar a guerra em 24 horas’, mas o custo disso será pago com soberania ucraniana”, escreveu o jornalista Shaun Walker para o The Guardian. O cálculo russo é basicamente transformar ganhos militares em conquistas políticas permanentes.
Do ponto de vista interno, Trump também tem pressa. Segundo o New York Times, a opinião pública no EUA mostra sinais de fadiga em relação à guerra. Pesquisa recente aponta que 58% dos estadunidenses são contrários a novos pacotes de ajuda à Ucrânia. Isso reforça a tendência de que o governo busque uma saída rápida, mesmo que isso implique fatiar parte do território ucraniano.
O desfecho da reunião ainda é incerto, mas uma coisa é clara: como já alertavam editoriais de AND, o mais provável fim da guerra na Ucrânia resultará na partilha do território ucraniano e num impasse tático. O governo ianque, pressionado, pretende entregar parte do território ucraniano de forma que a divisão não comprometa muito sua defesa a partir da Europa, mas permite o fim da guerra e, a partir disso, possa minar sua aliança com a China, visando isolar esta que é sua principal competidora.
