No último dia 5 de Setembro, sexta-feira, foram resgatados pela Guarda Nacional Republicana (GNR) 69 camponeses das mãos do latifundiário da exploração de pêra-rocha, no Cadaval (distrito de Lisboa). Todos eram oriundos de países africanos e constavam como estudantes do ensino profissional de vários locais do país, que procuravam uma forma de juntar algum dinheiro no período de férias escolares, sendo de sua maioria mulheres (43 ao todo) acompanhadas por 26 homens, com idades entre os 16 e os 24 anos.
Sem contrato de trabalho e a receberem um valor miserável, os camponeses foram trancafiados no lado de fora de um armazém agrícola e acabaram obrigados a dormir em tentas improvisadas. Quando foram encontrados, as condições revelaram-se piores do que havia sido descrito, tendo de se contentarem com frigoríficos velhos enferrujados, estender a roupa em velhos caixotes e fazer as necessidades numa casa de banho que já se econtrava totalmente inundada, o que os levava a terem de fazer as questões higienossanitárias no meio da rua.

Os trabalhadores foram resgatados temporariamente pela Unidade de Controlo Costeiro e de Fronteiras da GNR , não sendo possível apurar o seu destino por enquanto. O suspeito de realizar a exploração também foi identificado e levado preso — apesar das forças do velho Estado recusarem-se a revelar a identidade do explorador ou da empresa — tanto pelos crimes de angariação de mão-de-obra ilegal, como de descarga ilegal em linha de água, mesmo que não exista qualquer garantia de que o criminoso seja condenado.

Cresce o trabalho semisservil: o velho Estado é a sua expressão política concentrada
Esta situação não é a excessão, e está incluinda numa longa campanha de intensificação do trabalho semisservil em Portugal. Como revelado em 2024 pela “Operação Espelho” (PJ/Évora), esta expôs 14 pessoas e 6 empresas ligadas à exploração laboral e tráfico humano no Alentejo, tendo sido identificadas cerca de 100 pessoas neste regime imposto pelo latifúndio em mais de 70 explorações agrícolas.
Longe de parecer uma situação atípica ou “desordenada”, a semisservidão (ou semifeudalidade) é parte da estruturação de todo o velho Estado português desde o advento do imperialismo, quando a Inglaterra passou a atuar como principal explorador da mão de obra e da economia portuguesa, com o apoio das classes dominantes reacionárias locais. O capitalismo português é, desde então, imposto pelos potentados imperialistas por cima de uma base servil, jamais destruídas pelas aspirações democráticas das massas camponesas e revolucionárias do proletariado. O velho Estado português é a expressão política dessa economia política; este não combate o latifúndio, mas é a sua estrutura política, onde ele está situado e exerce seu poder.
Parece agora que a estas relações de exploração expandem-se também para o Ribatejo, região a que pertence Cadaval, que junto do Alentejo, foram as regiões onde as condições camponesas foram mais repressivas e degradas durante o regime fascista de Salazar, onde as mulheres e homens eram condenados a trabalhos sazonais e no inverno a miséria e o desemprego tomavam conta das pobres casas das massas camponesas.
Face a isto, a luta pela destruição do latifúndio exploratório, engendrado no velho Estado português contra os imigrantes e massas portuguesas, é a bandeira uma bandeira para todos os democratas e revolucionários, já que apenas serve às classes dominantes ligadas ao imperialismo, principalmente o latifúndio. As cidades portuguesas, cercadas e esmagadas pela semisservidão do interior do país, devem ser altiva caixa de ressonância da luta pela terra do campesinato português.
