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Completaram-se, em 11 de setembro de 2025, quatro anos desde o martírio do Dr. Manuel Rubén Abimael Guzmán Reynoso, o Presidente Gonzalo, chefatura do Partido Comunista do Peru (PCP), cuja vida e obra continuam irradiando como farol incansável para os povos oprimidos e para todos os revolucionários e democratas ao redor do mundo. Seu martírio na prisão da Base Naval de Callao, que ele transformou em uma luminosa trincheira de combate por 29 anos, longe de silenciar sua voz, tornou-se reforço para a memória revolucionária que ecoará pela eternidade.
Da academia à guerra popular
Nasceu em 3 de dezembro de 1934 em Mollendo, no sul peruano, filho de mãe pobre, com condições de desigualdade desde cedo. Cresceu assistindo à miséria dos camponeses, das comunidades indígenas e dos operários, absorvendo os frutos da opressão semicolonial, semifeudal e do capitalismo burocrático no Peru. Nos anos 50, tornou-se militante do PCP. Estudou filosofia e direito, tornando-se professor universitário, e viu no estudo, principalmente dos grandes clássicos do marxismo, não apenas um caminho individual, mas uma arma para a revolução.
Foi na clandestinidade, a partir dos anos 60 e especialmente com a reconstituição do PCP guiada pelo marxismo-leninismo-pensamento Mao Tsé-Tung (como era chamado o maoísmo à época), que o Presidente Gonzalo refinou sua direção estratégica: entendendo que no Peru a dominação imperialista ianque, a opressão semifeudal e o descaso do velho Estado e a fragmentação nacional (geográfica, étnica, econômica) exigiam uma Guerra Popular Prolongada, travada no campo como principal e na cidade como complemento, com base nos camponeses pobres como força principal e o proletariado como força dirigentes, organizando operários, camponeses, mulheres, estudantes, intelectuais, etc., e construindo estruturas de massa e militares articuladas.
Em maio de 1980, no que ficaria conhecido como ILA80, teve início a ofensiva declarada, com a Guerra Popular propagada sob sua direção, uma ruptura com o legalismo e com as formas burguesas de luta defendidas pelos oportunistas e capitulacionistas, percebendo nelas obstáculos fundamentais à libertação do povo peruano. Essa marcha alcançou uma envergadura tal que, segundo documentos do PCP, seu controlo direto estava presente em 47% do território, mantido não apenas por combates armados, mas por influência ideológica e organização social paralela, construindo o Novo Poder frente ao velho Estado peruano.
Foi capturado em 12 de setembro de 1992, após anos de caçada às bruxas contra o PCP e as massas sob sua direção, na operação conhecida como “Operación Victoria” pela polícia especial peruana (GEIN), apoiada pelo imperialismo ianque. Seu discurso público mais conhecido após a prisão foi o chamado “Discurso da Jaula”, proferido em 24 de setembro de 1992, em que, exposto numa jaula, diante do povo, contornou os intentos do velho Estado e do imperialismo ianque de humilhá-lo e desmoralizá-lo e reafirmou publicamente a linha revolucionária que dirigia a justa rebelião do povo peruano.
O legado do Dr. Abimael Guzmán
A sua contribuição teórica, política e militar foi singular, pois Gonzalo não só assimilou e fez avançar o marxismo-leninismo-Pensamento Mao Tsé-Tung, definindo o maoísmo como caminho para Revolução Proletária no mundo em geral, e o Pensamento Gonzalo como sua aplicação particular ao Peru, como também desenvolveu, no curso da Guerra, contribuições reconhecidas internacionalmente, os chamados aportes de validade universal do Presidente Gonzalo, alçando a Revolução Peruana a uma etapa de fundamental importância na Revolução Proletária Mundial, como fração vermelha do Movimento Comunista Internacional.
Sua direção fez avançar a formação política, unidade ideológica, organização de massas operárias, camponesas, femininas, estudantis, de intelectuais, etc.; a criação de comitês de autodefesa, construção de estruturas militares, de propaganda, de cultura popular, de jornalismo democrático e revolucionário. Tudo isso sob risco brutal, em meio a repressão, perseguição, prisões, tortura e assassinatos a mando do velho Estado e dos imperialistas.
As mentiras do velho Estado peruano e do imperialismo para difamar sua memória
Para compreender plenamente sua figura, é essencial desmontar as versões construídas pelos inimigos. Entre algumas das mentiras mais persistentes, estão a versão de que ele teria abandonado a luta ou capitulado. O velho Estado peruano, sob o regime fascista de Fujimori e seus sucessores, divulgou as chamadas “Cartas de Paz”, atribuídas ao Presidente Gonzalo, dizendo que ele buscava negociações, que renunciava à continuidade da Guerra Popular. Mas há confirmações (inclusive confissões de agentes do Serviço de Inteligência Nacional do Peru, SIN) de que essas cartas foram forjadas por agentes do velho Estado, com montagem e manipulações para criar a ilusão de que o Presidente Gonzalo havia desistido ou traído a revolução, buscando desestabilizar todo o movimento revolucionário a partir da suposta capitulação da chefautra.
Também persiste a mentira do suposto “terrorismo irracional”, violência gratuita descolada do povo, arma sempre usada pela reação para deslegitimar os revolucionários mais avançados. Mas o PCP, sob sua direção, foi capaz de mobilizar as massas no campo e na cidade, construir um Novo Poder contra-hegemônico, de autodefesa, instituições de base, e propôs sua hegemonia social precisamente como alternativa ao velho Estado e ao latifúndio, à exploração feudal no campo e à opressão indígena, feito este que seria impossível de ser levado adiante por um pequeno secto de “terroristas monstruosos e sanguinários”, como querem fazer-nos acreditar os reacionários e oportunistas de todo o tipo. As acusações de “terrorismo” são inventadas a partir de crimes do próprio velho Estado peruano por meio das Forças Armadas reacionárias, do armamento de grupos paramilitares compostos por criminosos e narcotraficantes, assassinando civis em operações militares, campanhas de contra-insurgência que ignoravam distinções, levando a cabo torturas e desaparecimentos forçados.
Como parte da guerra psicológica contra-revolucionária, o velho Estado e o imperialismo celebraram sua captura, seu isolamento, sua condenação como “fim da guerra”. Entretanto, mesmo após sua prisão, a luta ideológica e a guerra popular persistiram, em diversas formas, com fraturas, divergências, mas não cessação. Seu legado estratégico e ideológico continuou circulando internacionalmente: comunistas em outros países saúdam o Pensamento Gonzalo, organizam propaganda, divulgam e mantêm viva na prática a guerra popular como linha militar do proletariado; e mesmo no Peru, onde a reorganização geral do Partido e da Revolução se tornam cada vez mais inevitáveis, as bases de apoio no VRAEM voltam a crescer e as mentiras dos reacionários e oportunistas tornam-se cada dia mais insustentáveis, tudo isto em meio à Guerra Popular em curso.
O Dr. Abimael Guzmán deu sua vida, não apenas como pessoa, mas como chefatura de uma revolução que buscava libertar milhões de peruanos e servir de exemplo para todos os povos oprimidos, dando sua máxima contribuição ao proletariado internacional e ao Movimento Comunista Internacional. Seu martírio, sem nunca ter capitulado ou delatado seus companheiros, é hoje lição para todos que lutam por um mundo livre da exploração. Seu legado figura junto ao de Ibrahim Kaypakkaya, Nambala Keshava Rao, Charu Majumdar, Ka Maria Malaya, Pedro Pomar, Maria dos Santos Machado e inúmeros outros revolucionários que tombaram em combate, sem nunca abaixar a bandeira vermelha da revolução.
Não se honra sua memória com adulações cegas ou fraseologia revolucionária sem prática real; honra-se lutando pela aplicação do marxismo-leninismo-maoismo como ciência e prática revolucionária, fazendo que seu legado não caia no esquecimento ou na rendição ideológica.
O Presidente Gonzalo é imortal, pois imortal é o seu Pensamento Gonzalo, que até hoje guia a Guerra Popular em curso no Peru e faz avançar inúmeros processos revolucionários pelo mundo. Seu martírio deve inspirar novas fileiras; que sua direção estratégica, sua inquebrantável abnegação e disposição revolucionária, iluminem a libertação dos povos de todo o mundo.
