Foto: Reprodução/BBC
Entre os dias 8 e 13 de Setembro, milhões de massas populares, principalmente composta pela juventude, saíram às ruas em imensos protestos em diversas cidades do Nepal, país vizinho à Índia e a China. A razão do levante popular foram as recentes leis promulgadas pelo governo de turno, comandado até então pelo primeiro-ministro KP Sharma Oli, que visavam a proibição e/ou restrição de duas dezenas de plataformas de média (como YouTube, X e Facebook), e a corrupção generalizada no velho parlamento nepalês.
Os protestos logo se elevaram e as massas da juventude e, em resposta, o velho Estado nepalês as reprimiu brutalmente, inicialmente com canhões de água, bastões e balas de borracha, para então utilizarem munição letal, deixando um saldo de cerca de 51 pessoas assassinadas e mais de 300 feridas. Em fúria, a juventude nepalesa pôs abaixo o Palácio de Singha Durbar, que abriga diversos edifícios governamentais e o Parlamento na capital Catmandu, incendiando-o.
O Partido Comunista Revolucionário do Nepal (PCRN) emitiu uma declaração condenando a repressão do velho Estado e dos revisionistas, a qual a tradução não oficial para o inglês foi repercutida pela média revolucionária internacional The Red Herald. A imprensa popular e democrática nepalesa Moolbato denunciou as condições impostas ao povo nepalês, pontuando que “durante décadas, o povo nepalês tem sido humilhado e vitimizado devido ao sistema parlamentar intermediado, à corrupção generalizada, aos acordos antinacionais e à intervenção de potências estrangeiras. As vidas de agricultores, trabalhadores, estudantes e jovens desempregados pobres estão presas num ciclo de miséria e injustiça.“
Como resultado dos protestos, as leis anti-plataformas mediáticas foram anuladas e ocorreu a renúncia de KP Sharma Oli no dia 9 de Setembro. Mesmo assim, a juventude saiu às ruas até o dia 13.
Estes protestos são parte de uma onda que está atravessando a Eurásia. Aos finais de Agosto, o povo indonésio também levantou-se contra as medidas descaradamente corruptas do parlamento do país, comandado pelo governo de turno ultrarreacionário de Prabowo Subianto, que concedeu enormes subsídios aos membros da Câmara dos Deputados da República da Indonésia (DPR-RI) em meio a uma potente crise económica que assola o país, atirando milhões de massas na fome e na miséria. A repressão causou duas mortes, 10 desaparecimentos e milhares de presos, e vários edifícios governamentais também foram incendiados pela fúria das massas em diversas cidades do país. A 10 de Setembro, as massas também se ergueram em manifestações massivas nas principais cidades de França, que incluíram a realização de ações armadas realizadas em trilhos ferroviários e estações elétricas. Tais informações foram compartilhadas pelos portais revolucionários e democráticos Fajar Merah (Indonésia) e La Cause du Peuple (França).

O governo de turno e a constituição do parlamento nepalês
KP Sharma Oli, primeiro-ministro que renunciou no último dia 9, estava a exercer seu terceiro mandato. Este é secretário-geral do comité central de um partido intitulado Partido Comunista do Nepal (Marxista-Leninista Unificado) e líder do que se chama o “Grupo de Oposição” dentro da câmara alta do velho Estado nepalês. Este grupo, formado em 1991 e, desde então, participando dos governos de turno (inclusive sob o jugo da monarquia no país), é criticado pelos comunistas revolucionários nepaleses pelo seu revisionismo e seu cretinismo parlamentar, exercido em troca de lugares rendosos no putrefato parlamento do país. No cenário internacional, este é membro do “Encontro Internacional de Partidos Comunistas e Operários”, do qual fazem parte grupos como o Partido Comunista da China social-imperialista, o “Partido Comunista da Federação Russa” apoiador do regime imperialista russo e, para variar, o oportunista “Partido Comunista Português”.
O PCN (MLU), enquanto esteve no governo, foi denunciado pelas massas pelos constantes crimes contra elas, que visavam a inserção de seus quadros partidários através do fisiologismo e do nepotismo. Enquanto o poderio económico dos membros do parlamento só crescia em todos os setores, as amplas massas foram atiradas à crescente miséria e carestia, fruto da crise de decomposição do imperialismo hoje em voga, não diferindo de nenhum outro governo da história do país.
A sua lista de relações é impressionante: enquanto encenava discursos radicaloides, Oli manteve relações com o velho Estado indiano, acenando costumeiramente ao seu primeiro-ministro fascista Narendra Modi, denunciado internacionalmente pela repressão à Guerra Popular dirigida pelo Partido Comunista da Índia (Maoista) e aos movimentos e personalidades democráticas do país. Os governos de turno de Oli e do PCN (MLU) também foram responsáveis por aprofundar a subjugação do país ao social-imperialismo chinês. Durante o incremento da luta revolucionária prolongada do povo no Nepal no final dos anos 90 e primeira metade dos anos 2000, tanto o expansionismo indiano quanto o social-imperialismo chinês venderam ao velho Estado nepalês todo tipo de tecnologia bélica para serem usadas contra as massas.
Seu antecessor foi Pushpa Kamal Dahal, conhecido como Prachanda, também é secretário-geral de um outro reconhecido partido revisionista, o Partido Comunista do Nepal (Centro Maoista). Prachanda e seu Partido, fundado em 1994 com o nome de PC do Nepal (Maoista), dirigiram entre 1996 e 2006 uma Guerra Popular que mobilizou milhões de massas em todo o país, tanto no campo quanto na cidade, e chegou a exercer o Novo Poder democrático em grandes partes do território. No entanto, em vez de prosseguir para a tomada do poder para o proletariado e o povo na totalidade do país, Prachanda enveredou no caminho do revisionismo e encabeçou negociações de paz com o velho Estado nepalês e os partidos reacionários nele inseridos, capitulando e entregando as armas em 2006, o que levou à dissolução do Novo Poder, à reversão de todas as conquistas obtidas pelas massas durante a Guerra e a inserção do PCN (M) ao velho Estado. Em suma, ocorreu uma traição ao proletariado e as massas por parte do Partido, com Prachanda à cabeça. Tal fato foi denunciado por comunistas nepaleses e de todo o mundo desde então.

O governo de turno de Prachanda foi marcado, assim como o de KP Oli, pelo aprofundamento da crise de decomposição do imperialismo, que se abateu nas massas com o incremento da fome, da miséria e da carestia do povo nepalês, tanto no campo quanto na cidade, assim como pela repressão às suas manifestações e demandas.
Ambos os grupos revisionistas, “MLU” e “Centro Maoista”, já foram unificados em um mesmo partido, de nome “Partido Comunista do Nepal”, mas que não durou muito por conta da política de “meu feudo” exercida por ambas as frações devido às disputas eleitoreiras. Todo este processo envolveu constante tráfico com as demandas das massas empobrecidas no campo e nas cidades.
A constituição parlamentar na velha república nepalesa é, hoje, dominada pelo revisionismo e pelo oportunismo. O PC do Nepal (Centro Maoista) possui 18 cadeiras e é o grupo com maior representação no Parlamento Federal, seguido pelo Congresso Nepalês (16), PC do Nepal (MLU) (11), PC do Nepal (Socialista Unificado) (8), Partido Socialista Popular (3), Partido Socialista Democrático (1), a Frente Popular Nacional (1) e independentes (1). Apesar de parecer algo positivo, os protestos e o levante popular expõem a natureza traidora e oportunista do revisionismo, onde só tomam as massas e suas revoltas para canalizá-las nas disputas eleitorais, para logo reprimi-las e descartá-las.
