
Um manifestante atira uma lata de gás lacrimogéneo contra a polícia de choque durante uma manifestação perto da Universidade de Antananarivo. Fonte: Zo Andrianjafy/Reuters.
Republicamos material publicado pelo portal revolucionário internacional The Red Herald.
O governo de Madagáscar foi dissolvido na segunda-feira após dias de protestos e confrontos no país, que segundo a Organização das Nações Unidas (ONU) deixaram pelo menos 22 pessoas assassinadas. Milhares de pessoas protestaram contra a falta de eletricidade e de água e o governo desencadeou uma repressão mortal contra a população.
Milhares de pessoas, na sua maioria jovens, saíram à rua desde quinta-feira em protesto contra a pobreza generalizada e os constantes cortes de eletricidade e água. Apenas 36% da população de Madagáscar tem acesso à eletricidade, cerca de 75% da população vive abaixo do limiar da pobreza e Madagáscar está classificado entre os países mais corruptos do mundo.
Os protestos começaram pacificamente na capital, Antananarivo, a 25 de setembro, mas as forças repressivas do Estado responderam com gás lacrimogéneo, detenções e agressões contra os manifestantes. Alguns agentes utilizaram também munições reais, como ficou documentado em vídeos publicados nas redes sociais.
O governo impôs um recolher obrigatório na quinta-feira à tarde, após os primeiros protestos. Segundo consta, pelo menos cinco manifestantes foram assassinados nesse dia. Apesar do recolher obrigatório, os manifestantes ergueram barricadas em chamas com pneus e lenha e entraram em confronto com as forças repressivas. De acordo com relatos locais, os manifestantes organizaram vários pequenos grupos para contornar os cordões policiais e continuar o seu protesto. Após os primeiros grandes protestos, as manifestações começaram a espalhar-se por muitos bairros populares.





A violência do Estado só fez aumentar a raiva do povo. Milhares de manifestantes voltaram às ruas em Antananarivo, Antsiranana e noutras cidades na segunda-feira.
O presidente, Andry Rajoelina, tentou acalmar o protesto demitindo o seu ministro da Energia por “não ter feito o seu trabalho corretamente”, mas os manifestantes exigiram que também ele se demitisse. Na segunda-feira, o governo foi dissolvido por Rajoelina e um novo governo será formado nos próximos dias. Apesar da dissolução do governo, as mobilizações continuam e os manifestantes voltaram a sair à rua na terça-feira, exigindo mudanças efectivas. Muitas cidades assistiram a protestos e registaram-se confrontos em Antananarivo.
Até à data, foram assassinadas 22 pessoas e mais de uma centena ficaram feridas, segundo a ONU. Entretanto, as autoridades estatais negam estes números sem terem anunciado qualquer número oficial de mortos e feridos.