Foto: Jim Lo Scalzo/EFE/Direitos Reservados
Nesta sexta-feira, 31 de outubro, o presidente ultrarreacionário do regime norte-americano, Donald Trump, anunciou que os Estados Unidos irão retomar testes nucleares, depois de mais de três décadas de moratória.
Esta medida insere-se num cenário global de crise geral do imperialismo, em que a pugna entre a superpotência imperialista ianque, o social-imperialismo chinês e o imperialismo russo intensificam-se, enquanto as potências imperialistas menores na Europa, como a Alemanha e a França, disputam a hegemonia da “União Europeia” e preparam-se, como carniceiros, para capturar quaisquer espólios que consigam no resto do mundo, no intuito de conjurar o estourar precipitado de uma vindoura guerra mundial imperialismo.
Sob estas condições, o recurso à “força nuclear”, apesar de formalmente servir como uma intimidação a todo o planeta, surge como sintoma da fraqueza, e não do vigor, de uma superpotência hegemónica que vê as massas populares dos seus “domínios”, colónias e semi-colónias, cada vez mais rebeldes e em revolta crescente.
A crise geral do imperialismo e a militarização como reflexo de sua decadência
A história comprova que quando uma nação opressora se encontra em questionamento da sua hegemonia, enfrenta a erosão da sua base política doméstica e a concorrência cada vez mais agressiva com outros opressores a sua volta. Nessas condições, o recurso a formas extremas de militarização, como a retoma de testes nucleares no mundo actual, torna-se uma resposta típica de desespero.
O anúncio dos EUA reflecte exactamente isto: a tentativa de intimidar rivais e massas populares, principalmente das nações oprimidas, apelando ao que parece-se “o máximo da força”, quando na realidade tal poder já está questionado, como expresso na icónica frase do Pdte. Mao Tsé-Tung: “Os imperialistas são tigres de papel. Em aparência são terríveis, mas, na realidade, não são tão poderosos”. O que revela que o espanto aparente da máquina militar ou nuclear das potências imperialistas não garante a sua permanência ou invulnerabilidade — pois lhes falta a base na força das massas, na legitimação histórica e na mobilização dos povos. A retoma dos testes nucleares pelos EUA revela que o “tigre” imperialista está a tentar rugir para esconder a sua fragilidade.
A directiva de Trump surge no momento em que a China e a Rússia estão a projectar-se com maior acuidade no mundo (nomeadamente em África, América Latina e Ásia), minando de forma relativa a penetração dos EUA. Ao anunciar retomar os testes atómicos, os EUA comunicam duas mensagens simultâneas: a) “estamos ainda prontos para a guerra nuclear, logo vós não deveis desafiar-nos”; b) “somos menos seguros do que anunciamos, por isso precisamos repetir os testes para restaurar a credibilidade”. A segunda mensagem é a que revela a decadência.
Neste quadro, a militarização crescente, o reaparecimento de competições nucleares, e a intensificação das tensões inter-imperialistas reflectem um imperialismo decadente “tentando apanhar dez pulgas com dez dedos”, uma potência com múltiplos compromissos, sobrecarga estratégica e múltiplos teatros de disputa e contenção.
Não é preciso ir muito longe para encontrar um exemplo semelhante no mundo contemporáneo. Vejamos a militarização agressiva pela qual passou a África do Sul (no caso particular, uma semicolónia semifeudal, regida aos mandos do imperialismo principalmente ianque) aos fins do regime do apartheid. Isolada internacionalmente, sob sanções e pressão popular nas suas zonas de influência e ocupação (não apenas internamente, mas num contexto regional africano), a África do Sul, desde os anos setenta e oitenta, intensificou incursões militares contra os seus vizinhos e apoiou operações de desestabilização em toda a região. Por exemplo: em 14 de Junho de 1985 a South African Defence Force (SADF) conduziu uma operação transfronteiriça numa zona suburbana de Gaborone (Botsuana), em que morreram vários civis, em clara violação da soberania daquele Estado. Outro estudo regista que o regime sul-africano, em plena “estratégia total” dos anos 1980, lançou raids e bombardeamentos em Botsuana, Lesoto, Namíbia e Angola, como modo de garantir contra-insurgência às massas populares e manter sob o escopo da intimidação do imperialismo ianque e do social-imperialismo soviético os demais regimes ao redor.
Do mesmo modo que, em seus momentos finais, a África do Sul recorreu a ação militar agressiva, hoje os EUA seguem o mesmo percurso. Quando a hegemonia é posta em cheque, a militarização surge como último recurso demoliberal, como uma besta acuada lutando pela vida.
A consequências para as massas e para os povos oprimidos de todo o mundo
Para os povos oprimidos, nas colónias ou semi-colónias, e até dentro dos próprios Estados imperialistas, este ressurgimento da intimidação nuclear e da militarização significa agravamento do fustigamento imperialista global contra as massas: maior reciclagem da “lógica de dissuasão” que recai sobre os povos em geral, e maior repressão interna sob o pretexto de “segurança nacional”, como já é testemunhado em todo o mundo.
Para as massas populares nos EUA também: este anúncio visa distrair do essencial (crise económica, desigualdade, decadência social), a puxar aquilo que há de mais atrasado, para o espectro externo da “ameaça nuclear”, além de intensificar o chauvinismo com um sentimento de “combate aos inimigos da nação”. Ou seja, a militarização serve como chicane ideológica para esconder a crise e tentar recuperar a legitimação do imperialismo.
Esta retomada dos testes nucleares, entretanto, deve também ser levado em conta pelos militantes revolucionários e democráticos em todo o mundo: não se trata apenas de mais uma escalada militar, mas de um sintoma de fraqueza do imperialismo que pode e deve ser aproveitado pelas massas para intensificar a sua contraofensiva. Se os imperialistas são, como disse o Pdte. Mao, tigres de papel, então é precisamente no momento em que eles rugem mais alto que estão mais próximos da sua queda.
Para o movimento anti-imperialista e revolucionário português e internacional, isto significa: unificar-se, em todos os níveis, em torno de um anti-imperialismo consequente, sólido, que combata toda tentativa de desviá-lo deste caminho, superando a dispersão; mobilizar as massas em todas as frentes — contra o aprofundamento do domínio imperialista sobre outras nações, contra os resquícios semifeudais, coloniais e semicoloniais que permitem a exploração das nações oprimidas, por paz, pão e terra.
Se faz mais necessário do que nunca a aliança internacionalista das massas trabalhadoras e dos povos oprimidos, sob a direção da classe operária; expor a militarização imperialista como prelúdio de seu fim, conseguido através do combate a estes; e utilizar as fraquezas internas (como custos altíssimos, financiamento militar, crescente das lutas reivindicativas operárias e populares) para intensificar os combates ao imperialismo e seus lacaios locais (grandes burgueses e latifundiários), dentro e fora de Portugal; e no plano internacional, apoiar firmemente as lutas de libertação nacional e os processos de polarização anti-imperialista, como as Guerras Populares no Peru, Índia, Turquia e Filipinas, a Revolução Agrária no Brasil e a gloriosa Resistência Nacional Palestiniana, verificando que a corrida ao armamento nuclear é, para além de mais um mecanismo de repressão global, uma desvantagem estrutural duradoura para o imperialismo.
Essa intimidação deve, portanto, ser convertida em contexto de contraofensiva das massas populares e da luta revolucionária contra a exploração e pilhagem imperialista.
