A milícia de Hossam al-Astal, apoiada por Israel. Foto: via rede social
Republicamos material encontrado na imprensa popular e democrática palestiniana The Palestine Chronicle. A tradução para o português ficou à curadoria da imprensa popular e democrática brasileira A Nova Democracia, a qual fizemos pequenas alterações para maior legibilidade para os leitores portugueses.
Embora “Israel” tenha concordado em cessar sua guerra genocida contra Gaza nos termos do cessar-fogo de outubro, o país está a apoiar ativamente grupos armados que planejam desestabilizar a Faixa, de acordo com uma nova investigação da Sky News.
A Sky News confirmou que quatro milícias estão operando dentro de Gaza com o apoio de “Israel”.
De acordo com a reportagem, esses grupos se consideram parte de um projeto conjunto para remover o movimento de resistência palestiniano Hamas do poder e estão estacionados em áreas ainda sob controle “israelita”, atrás do que tem sido chamado de “linha amarela”, uma fronteira imaginária que marca as mobilizações do exército “israelita”, conforme estabelecido pelo acordo de cessar-fogo.
Hossam al-Astal, um dos líderes da milícia, disse à Sky News de sua base perto de Khan Yunis: “Temos um projeto oficial – eu, Yasser Abu Shabab, Rami Halas e Ashraf al Mansi. Somos todos a favor da ‘Nova Gaza’. Em breve, alcançaremos o controle total da Faixa de Gaza e nos reuniremos sob um único guarda-chuva”.
O relatório observou que o quartel-general de al-Astal está localizado ao longo de uma estrada militar a menos de 700 metros de um posto militar “israelita”.
“Estou a ouvir o som de tanques agora enquanto falo, talvez estejam em patrulha ou algo assim, mas não estou preocupado”, disse al-Astal. “Eles não nos atacam e nós não os atacamos. Concordamos, por meio do coordenador, que esta é uma zona verde, que não deve ser alvo de bombardeios ou tiros.”
Al-Astal disse à Sky News que cresceu na mesma área, mas fugiu de Gaza em 2010 após ser perseguido pelo Hamas por causa de suas ligações com grupos militantes ligados à Autoridade Palestiniana (AP).
Mais tarde, ele teria trabalhado para os serviços de segurança da Autoridade Palestiniana no Egito e na Malásia antes de retornar a Gaza. Em 2018, ele foi acusado de envolver-se no assassinato de um membro do Hamas na Malásia e condenado à morte.
“Quando a guerra começou, eles nos deixaram trancados, esperando que os “israelitas” bombardeassem a prisão e se livrassem de nós”, afirmou ele, acrescentando: “Dois meses depois, derrubamos as portas e escapamos”.
Al-Astal disse que suas armas, principalmente rifles Kalashnikov, foram compradas de ex-combatentes do Hamas no mercado negro, enquanto munições e veículos foram entregues através da passagem de fronteira Kerem Abu Salem (Kerem Shalom) após coordenação com os militares “israelitas”.
De acordo com a reportagem, a Sky News identificou caminhões de carga chegando à base da milícia em imagens de vídeo e satélite, confirmando que esses suprimentos foram entregues a partir de passagens controladas por “Israel”.
Isso corresponde ao que foi confirmado por al-Astal, um soldado “israelita” estacionado em Kerem Abu Salem e comandante sénior da milícia de Abu Shabab: que a coordenação com as forças armadas “israelitas” ocorre indiretamente e que a Autoridade Palestiniana desempenha um papel fundamental.
“Tenho pessoas dentro do meu grupo que, até hoje, ainda são funcionários da Autoridade Palestiniana”, disse al-Astal. Ele acrescentou que “a Autoridade Palestiniana não pode admitir ter uma relação direta conosco. Ela já tem problemas suficientes e não quer aumentar esse fardo”.
A Sky News informou que aeronaves “israelitas” intervieram em pelo menos duas batalhas envolvendo a milícia de Abu Shabab. A investigação da Sky News também encontrou indícios de que as milícias recebem apoio de potências externas.
O vice-líder da milícia de Abu Shabab, Ghassan al-Duhine, foi fotografado ao lado de um veículo com placa registrada nos Emirados Árabes Unidos. Além disso, os logotipos das alas armadas das milícias se assemelham muito aos das milícias apoiadas pelos Emirados Árabes Unidos que operam no Iémen.
Quando questionado sobre um possível apoio dos Emirados, al-Astal respondeu: “Se Deus quiser, com o tempo tudo ficará claro. Mas sim, há países árabes que apoiam nosso projeto.” Esse projeto, disse ele, é conhecido como “A Nova Gaza”.
O The Palestine Chronicle já havia relatado essa tendência a 13 de Outubro de 2025, em uma investigação detalhada de Robert Inlakesh. Aquele artigo anterior argumentava que “Israel” estava “armando gangues criminosas e ex-agentes de segurança para realizar assassinatos e aterrorizar civis”, descrevendo a medida como “uma continuação de sua guerra contra Gaza por outros meios”.
A reportagem de Inlakesh alertou que a nova abordagem de “Israel” dependia de “colaboradores em Gaza” para manter a pressão sobre a população, mesmo depois que as armas se calaram. Ele identificou figuras como Yasser Abu Shabab e Hossam al-Astal como líderes dessas milícias, apoiadas por armas, veículos e dinheiro fornecidos por “Israel”.
“Esses grupos”, escreveu ele, “estão a ser usados para executar civis, assassinar membros das forças de segurança e até mesmo assassinar jornalistas”.
As conclusões da Sky News parecem confirmar muito do que o The Palestine Chronicle havia delineado — que a estratégia de guerra de “Israel” estava a mudar do bombardeio direto para o controle indireto por meio de facções armadas operando sob sua proteção.
