
Na segunda-feira, 28 de Abril, milhões de trabalhadores em Portugal, Espanha e partes do sudoeste francês enfrentaram um dos maiores apagões elétricos da história recente. Em Portugal, a interrupção abrupta do fornecimento de energia mergulhou o país no caos, paralisando transportes, hospitais, comunicações e serviços básicos — uma demonstração cabal da fragilidade estrutural do sistema elétrico sob o domínio do monopólio financeiro.
Dependência externa e ausência de soberania
A interrupção não teve origem no território nacional, segundo confirmaram as autoridades. Porém isso, longe de absolver o velho Estado português, revela, antes, a completa submissão das forças produtivas do país à lógica do imperialismo espanhol, francês, etc. A rede elétrica nacional está integrada na malha ibérica e subordinada às diretrizes do capital de países imperialistas na Europa, fazendo com que qualquer falha externa exponha brutalmente a ausência de autonomia em Portugal sobre a sua própria política. A dependência de infraestruturas controladas por interesses estrangeiros é uma consequência direta das opções estratégicas do Estado português, que há décadas entrega setores-chave da economia ao capital internacional.
A sabotagem silenciosa da privatização
As sucessivas privatizações da Energías de Portugal (EDP), das Redes Energéticas Nacionais (REN) e de outros componentes da cadeia energética minaram a capacidade de resposta e a segurança do sistema elétrico. As infraestruturas, orientadas pela lógica do lucro imediato, são geridas com o mínimo de redundância e manutenção, num modelo que trata o fornecimento de energia como mercadoria e não como direito. O que vimos na segunda-feira foi o colapso temporário de um edifício tecnicamente sofisticado mas politicamente podre, incapaz de garantir os serviços mais básicos sem interferência dos monopólios transnacionais.
Vida quotidiana sob refém dos monopólios financeiros
Semáforos apagados, aeroportos encerrados, hospitais operando a gerador, comboios paralisados, caixas multibanco desligadas, comunicações interrompidas. O quotidiano das massas foi atravessado por horas de desorganização, insegurança e impotência. Mais uma vez, como é regra desde a adesão de Portugal à União Europeia na década de 1980, a classe operária e massas populares em geral foram quem mais sofreram: aqueles que não puderam trabalhar, que não receberam pagamento, que ficaram presos em transportes ou em filas. O sistema provou que só é funcional enquanto o capital estiver a fluir; quando há falha, abandona os trabalhadores à sua sorte.
A sombra do ciberataque e a opacidade do Estado
Entre as várias hipóteses levantadas para a origem do colapso está a de um ciberataque. Embora essa teoria careça de comprovação e exija cautela, o simples facto de ser considerada reflete a vulnerabilidade das infraestruturas nacionais em contexto de guerra de baixa intensidade e disputa interimperialista. As massas devem estar vigilantes quanto à forma como o Estado burguês poderá instrumentalizar este episódio para reforçar o controlo social, aumentar gastos militares ou aprofundar a cooperação com alianças como a sanguinolenta NATO — sempre em nome da “segurança”, mas à custa da liberdade e dos interesses populares.
A venda da energia e a ruína nacional
O apagão de 28 de abril não é um acidente isolado, mas mais um episódio de colapso de um modelo energético burguês em decadência — alicerçado na privatização, na dependência externa e na mercantilização de um bem essencial. Os constantes aumentos autorizados pela Entidade Reguladora dos Serviços Energético (ERSE), como o recente aumento de 2.1% no valor dos tarifários, o sucateamento da infraestrutura elétrica em todo o país para manter o lucro em alta e a resistência à construção de novas linhas de transporte de energia são mais alguns dos ladrilhos na estrada para a decadência de Portugal.
Tudo isto também acontece sob os auspícios não só sob os auspícios dos vários partidos reacionários em geral e oportunistas da falsa “esquerda” dentro da Assembleia da República, mas como parte íntegra de seus governos de turno, visto que tal condição vem se aprofundando nos últimos anos. É este o resultado inevitável de décadas de políticas orientadas por e para o capital financeiro, que submeteram a energia aos interesses de grandes monopólios privados e da burguesia imperialista.