
Grupelho nazista "1143". Foto: Fernando Veludo/Lusa
No último dia 05 de Outubro (domingo), Rachhpal Singh, um cidadão indiano de nacionalidade sikh, foi atacado por um bando do grupelho nazista “1143” na estação de serviço de Aveiras. A informação foi inicialmente repercutida pelo monopólio mediático Público. No atentado, Singh teve as suas roupas rasgadas e seu telemóvel roubado.
Singh parou na estação, enquanto regressava de Lisboa para Alpiarça com o reboque de seu trabalho de oficina, quando foi cercado por um bando de cerca de 10 elementos fardados com t-shirts com os escritos “1143”. Logo após o cerco, o grupo passou a desferir diversas profanações e provocações chauvinistas, mandando-o “sair do país” e obrigando-o a beijar o símbolo das t-shirts.
A partir daí, iniciaram-se agressões físicas contra Singh. “Um deles deu-me uma cabeçada e agarrou a minha camisola; eu agarrei a camisola dele. Ele continuou a dizer coisas”, relata Singh, que logo depois sofreu uma apunhalada por trás que o fez cair no chão e ser agredido covardemente pelos vermes em questão, até que estes evadissem a cena em dois autocarros não identificados rumo ao Norte. Lá, deixaram Singh com o rosto ensanguentado e com as roupas rasgadas.
A agressão a Singh só não foi maior por conta de intervenções e interpelações realizadas pelas massas que circulavam pelo local, sob os gritos de “racistas” contra o bando nazista. Logo após, a GNR foi chamada.
A GNR confirmou a agressão, no entanto caracterizou a situação como “uma alegada situação de agressões e roubo, praticada por um grupo de cidadãos tendo, conforme declarações da vítima, um dos elementos do grupo envergado uma camisola com o número 1143”, rebaixando a situação a apenas uma pretensa alegação e não um ataque a um imigrante operário por parte de um grupelho ultrarreacionário.
Singh, em declarações posteriores, pontuou as claras aspirações chauvinistas e racistas do atentado e do grupo em si.
Extrema-direita ascende frente à reacionarização do velho Estado português e a inação do oportunismo da falsa “esquerda”
A Revista Nova Aurora tem noticiado nos últimos tempos que a extrema-direita, tanto parlamentar quanto extra-parlamentar, tem vindo a intensificar a sua organização e os seus ataques ao povo, bem como aos seus direitos fundamentais. O grupo nazista “1143”, fundado em 2001 e ressurgido em 2023 com o verme Mário Machado à cabeça, é somente uma dessas facções.
Em Julho, um movimento paramilitar de extrema-direita chamado “Movimento Armilar Lusitano” (MAL) foi desarticulado pela polícia, na iminência da realização de ataques a órgãos demoliberais do velho Estado português, como a Assembleia da República, políticos específicos seus e, aquém dessas instituições, personalidades democráticas; foram apreendidas diversas armas de fogo, brancas e explosivas com o grupo, bem como insígnias do próprio grupo “1143”.
Esse tal “MAL” era composto por diversos agentes das próprias polícias do velho Estado de grandes burgueses e latifundiários, radicalizadas pela podridão reacionária gestada aí. Tal ligação não para por aí: de acordo com conversas trocadas no aplicativo de mensagens Telegram, dentre os 900 membros de um chat on-line do grupo, estava presente Manuel Matias, pai da deputada ultrarreacionária Rita Matias (Chega), mostrando a cumplicidade da extrema-direita parlamentar legal com grupos paramilitares reacionários e extra-parlamentares.
Ao longo dos anos temos visto a radicalização de vários sectores das forças de repressão (como a GNR e a PSP), que levou ao caso do Odair Moniz, operário caboverdiano morto pelas mãos da polícia na fatídica madrugada do dia 21 de Outubro de 2024. As massas populares, principalmente imigrantes, foram às ruas em enérgicos protestos e ações armadas espontâneas, despejando toda a violência revolucionária de volta ao velho Estado português.

No Bairro do Talude Militar (Loures), onde as massas populares, em sua maioria imigrantes, lutam há 40 anos por habitação digna, a repressão veio na forma de despejos e demolições sob o comando do governo de turno local, gerido pelo PS, não sem bastante resistência das massas que vivem no bairro.
Esse extremismo chauvinista dentro das forças de repressão burguesas-semifeudais já foram apuradas e denunciadas energicamente pelas massas em diversas manifestações. Por volta de 2022, mesmo a própria imprensa monopolista pôs à tona investigações que revelavam, da parte de alguns elementos das forças repressivas, comportamentos discriminatórios, xenófobos, racistas e apelos à violência reacionária e à prática de crimes graves contra o povo, tendo sido denunciados mais de 600 membros como perpetradores dessas práticas à época.
Enquanto o avanço da extrema-direita, inclusive armada, ocorre a passos circunstanciais, a falsa “esquerda” oportunista e eleitoreira não tem realizado nada senão o aplainamento da rebelião popular, tudo por manter seus lugarzinhos rendosos no próprio velho Estado português. Durante as grandes jornadas de luta contra o assassinato de Odair Moniz, o “PCP” (representante histórico desse matiz ideológico) e demais grupos vieram a público condenar a reação das massas frente à repressão do velho Estado, atitude que só desarma as massas do único caminho para conquistar direitos e liberdades: a luta.
Esta tendência não é, tampouco, somente portuguesa. Em vários países da Europa e nos EUA, cresce a repressão chauvinista, tanto institucional quanto paramilitar, a massas operárias e populares imigrantes, assim como cresce também a revolta destas contra os vários governos de turno desses países, mesmo nos imperialistas, como os próprios EUA, França, Espanha, Alemanha, Inglaterra, Suécia, etc.

A reacionarização e a militarização reacionária da sociedade portuguesa e em todo o mundo são reflexos de um sistema que, hoje, vive uma profunda crise de decomposição, exarcebando todas as suas contradições, na tentativa de manter a sua sobrevida. Isto acontece pois as massas populares, almejando as suas liberdades democráticas cada vez mais ameaçadas pelo incremento da fascistização dos velhos Estados, se unem em luta contra seus inimigos de classe. O chauvinismo, como ideologia apodrecida das classes dominantes e do imperialismo, é utilizado para dividir as massas e jogá-las umas contra as outras, visando esmagá-las por sectos, bem como a justificar a pilhagem e saque aos países oprimidos. As massas imigrantes, aí, são as primeiras a serem reprimidas violentamente, pois estão entre os sectores mais explorados e, portanto, com maior acúmulo de raiva e revolta frente ao espólio imperialista e de seus lacaios locais.
É necessário romper as ilusões e atirar-se à luta combativa
Não se deve ter quaisquer tipo de ilusões com a extrema-direita e os sectores demoliberais do regime português: ambos são duas faces da mesma moeda jogada acima pelo imperialismo e pelo velho Estado de grandes burgueses e latifundiários, que cumprem seus mandos e desmandos. São eles que, desde a transição do regime fascista para o atual nos anos 70, coordenam, em conjunto com as forças fascistas na caserna, a derrubada dos direitos democráticos e a escalada na intimidação e repressão às massas operárias e populares, principalmente imigrantes e refugiados.
Somente o povo, força mais poderosa da história, luta pelos seus direitos democráticos arrancados com o suor e sangue de décadas de revoltas e levantes, e só elas podem fazê-lo, avançando passo a passo, coalhando-se e forjando seus melhores filhos e filhas em um forte e sólido destacamento avançado, que mobilize, politize, organize e desenvolva paulatinamente todas estas lutas económicas em lutas pelo poder, que ponham fim a todo este regime de exploração e opressão.