
Na manhã de quinta-feira, 12 de Abril de 2025, pelas 6 horas, a floresta de Damaratogu, no mandal de Gundala, estado de Telanganá, foi palco de mais um episódio da repressão brutal que o velho Estado indiano leva a cabo contra o movimento revolucionário e popular. Nesta ocasião, o camarada Nallamur Ashok, conhecido como Vijender, revolucionário de 34 anos e dirigente do Partido Comunista da Índia (Maoísta), foi martirizado pelas forças armadas reacionárias.
O governo reacionário de Revanth Reddy, primeiro-ministro estadual de Telanganá, declarou tratar-se de um “confronto armado” entre a polícia e militantes do Partido. Porém, o Partido Comunista da Índia (Maoísta) denunciou imediatamente este alegado “confronto” como uma execução extrajudicial premeditada, encenada para legitimar o assassinato de um combatente. Segundo informações divulgadas pela Divisão Bhadradi Kothagudem–Alluri Sitaramaraju, trata-se de mais um crime perpetrado pelas autoridades estaduais em conluio com o governo federal de turno ultrarreacionário de Narendra Modi, no quadro de uma tentativa de campanha repressiva sistemática contra o movimento revolucionário e de massas no país.
Desde que o Partido do Congresso assumiu o governo de Telanganá, há apenas oito meses, multiplicaram-se os chamados “encontros” — termo utilizado tanto na Índia quanto nas Filipinas para designar execuções sumárias disfarçadas de confrontos —, resultando no assassinato de diversos revolucionários e camponeses organizados. Sob a falsa bandeira da “democracia” e da “ordem pública”, em total desespero com o avanço altissonante da Guerra Popular na Índia, o governo regional intensificou a operação ‘Kagaar’, campanhas militares de cerco e aniquilamento que visam eliminar as bases de apoio do Partido Comunista da Índia (Maoísta) nas zonas rurais e florestais.
A martirização de Vijender constitui, assim, um episódio a mais na longa lista de mártires da Guerra Popular que se desenrola na Índia há várias décadas, uma guerra travada entre as massas exploradas e o Estado de grandes burgueses e latifundiários que serve ao imperialismo, principalmente o ianque (Estados Unidos).
A Guerra Popular Prolongada na Índia
A luta revolucionária e de massas em curso na Índia remonta ao histórico levantamento camponês de Naxalbari, ocorrido em 1967, no estado de Bengala Ocidental. Dirigido por revolucionários comunistas rompidos com o oportunismo eleitoreiro e pacifismo do PCI (Marxista) e aglutinados no então Partido Comunista da Índia (Marxista-Leninista), este levantamento marcou o início de uma Guerra Popular Prolongada, baseada na mobilização das massas camponesas e tribais contra a grande burguesia, os latifundiários e as forças armadas, peças integrantes do Estado semi-colonial e semi-feudal indiano a serviço do imperialismo.
Ao longo das décadas, a guerrilha expandiu-se por diversas regiões, consolidando-se no chamado Cinturão Vermelho — um vasto território que atravessa estados como Chatisgar, Jarcanda, Orissa, Biar, Maarastra, Andra Pradexe e Telanganá. Nestas zonas, o Partido Comunista da Índia (Maoísta), fundado em 2004 pela fusão das principais organizações maoistas do país, dirige as massas populares na construção de zonas libertadas, onde se desenvolvem formas alternativas de poder, educação, produção e justiça, sob direcção revolucionária, abrindo cada vez mais zonas em vários cantos do país.
O velho Estado indiano, servil aos interesses imperialistas, considera os maoístas a “maior ameaça interna à segurança nacional”. Por essa razão, sucessivos governos de turno, tanto a nível central como estadual, têm conduzido violentas campanhas de repressão, como a Operação Green Hunt, lançada em 2009, e outras operações de grande escala, que implicam o deslocamento de dezenas de milhares de soldados e polícias para as zonas de guerrilha.
Em Telanganá, um estado com uma forte tradição de luta popular e insurreições camponesas, a repressão ganha contornos ainda mais intensos. A prometida “democracia” pós-independência revelou-se, desde cedo, uma máscara para a continuação da exploração, da repressão feudal e da pilhagem imperialista. A Guerra Popular neste estado representa a continuidade histórica da resistência do povo trabalhador contra a opressão da grande burguesia e dos senhores de terra.
Mesmo com a tentativa exasperada do velho Estado indiano de afundar a Revolução Indiana e o combate dos comunistas e massas em um banho de sangue, a Guerra Popular avança de forma estrondosa com cada vez mais enfrentamentos com as forças armadas e com crescente apoio popular, tanto no campo quanto na cidade, destroçando todas as campanhas de aniquilamento deslanchadas pelos governos de turno reacionários na caserna.
O papel do governo de Revanth Reddy e a aliança com Modi
O actual chefe do governo de Telanganá, Revanth Reddy, eleito sob falsas promessas de respeitar as liberdades democráticas, revelou-se rapidamente um aliado fiel do governo ultrarreacionário brahmânico de Narendra Modi. As suas acções demonstram total alinhamento com a política de guerra interna promovida por Nova Deli, demonstrando mais uma vez o papel da instituição eleitoral de somente reorganizar o poder com fins de combater as lutas revolucionárias, operárias e populares.
Desde que assumiu o cargo, Reddy não só deu continuidade às políticas repressivas do governo anterior como as intensificou, ordenando operações de cerco, reforço das forças especiais e ataques sistemáticos aos acampamentos revolucionários nas florestas. Os “encontros” — como o que vitimou o camarada Vijender — tornaram-se uma prática quotidiana, utilizada para tentar eliminar fisicamente militantes, humilhar e desmobilizar as populações camponesas e tribais que apoiam a guerrilha.
A cumplicidade entre o governo estadual e o governo central evidencia a unidade das classes dominantes indianas na sua guerra contra o povo trabalhador, contra os povos indígenas e contra os camponeses pobres que, há décadas, resistem na selva, nas montanhas e nas aldeias isoladas, construindo um Novo Poder assentado no povo dirigido pelo proletariado e seu partido.
A solidariedade internacional e a tarefa dos revolucionários e anti-imperialistas em Portugal
Perante mais este crime, o Partido Comunista da Índia (Maoísta) apelou, no seu comunicado, à mobilização de democratas, estudantes, artistas, intelectuais e poetas, tanto na Índia como no estrangeiro, para denunciar a repressão e prestar solidariedade activa à guerra popular em curso. O sangue de Vijender não será derramado em vão.
A repressão violenta e sistemática que hoje se abate sobre Telanganá e sobre todo o Cinturão Vermelho indiano demonstra que, onde há luta organizada, a repressão é sempre feroz. Mas também e principalmente evidencia que o velho Estado e os imperialistas temem, acima de tudo, a organização e a luta independente dos revolucionários e das massas populares, a construção de zonas libertadas, onde é gestado o embrião do Novo Poder, e o avanço da revolução.
Para os revolucionários de todo o mundo, a luta do Partido Comunista da Índia (Maoísta) é um exemplo vivo de resistência proletária, camponesa e popular em geral contra o imperialismo e seus lacaios locais. Com firmes princípios internacionalistas, defender a sua causa, divulgar a sua luta e denunciar os crimes do Estado indiano e a participação do imperialismo nesta patranha, forjando em meio às lutas um vigoroso movimento revolucionário – um destacamento avançado – e anti-imperialista em nosso próprio país, são tarefas fundamentais para todos aqueles que se colocam ao lado dos povos de todo o mundo em geral e do português em particular.