
Republicamos material exposto no jornal democrático e revolucionário brasileiro A Nova Democracia, ao último dia 3 de Julho.
A cidade de Torre-Pacheco, na região de Múrcia, se tornou palco da escalada da violência fascista anti-imigração no Estado espanhol. Grupos vinculados ao partido de extrema-direita Vox têm organizado manifestações e patrulhas armadas com facões e bastões para perseguir imigrantes, principalmente de origem magrebina – marroquinos, argelinos, tunisianos e outros povos do norte da África.
O periódico Servir al Pueblo, órgão da imprensa popular e democrática da Espanha, aponta que o que ocorre em Múrcia não se trata de um caso isolado, mas sim parte de um processo mais amplo de ofensiva fascista: “Vivemos num contexto generalizado de violência e criminalização contra imigrantes no Estado espanhol.”
“Grupos fascistas conclamam à organização de uma ‘resistência’ contra a ‘invasão’ muçulmana; esquadrões armados expulsam imigrantes de assentamentos precários em Aldaia (Valência); imigrantes ‘legais’ são deportados mesmo com doenças graves – praticamente condenados à morte – por causa das leis de contratação na origem impostas pelo governo ‘progressista’; e há assassinatos racistas cometidos por policiais, como em Torrejón de Ardoz”, destaca o periódico.
Do discurso de ódio à perseguição nas ruas
A nova mobilização fascista em Múrcia teve como estopim a agressão a um morador local no dia 9 de julho, supostamente cometida por cidadãos marroquinos. O caso foi rapidamente alardeado pelo monopólio de imprensa e instrumentalizado pela extrema direita para justificar a organização de manifestações e patrulhas de “segurança” pelas ruas da cidade – que, na prática, atuam como grupos paramilitares racistas.
“É evidente que qualquer pessoa capaz de cometer esse tipo de agressão é um sujeito desprezível, sobre quem deveria recair o peso da justiça popular. No entanto, não se deve confundir justiça popular com reacionarismo e militarização, que é justamente o que está sendo promovido em Torre-Pacheco”, critica o Servir al Pueblo.
Segundo a publicação, o caso foi instrumentalizado pelo Vox para reforçar seu discurso anti-imigração. “As reivindicações da manifestação não se limitavam à condenação da agressão sofrida pelo morador: tratava-se de uma desculpa perfeita para o partido Vox reforçar seu discurso anti-imigração, cada vez mais radical, numa tentativa de se distanciar ainda mais do Partido Popular (PP) nesse tema.”
José Ángel Antelo, presidente do Vox em Múrcia, chegou a declarar que a imigração ilegal “é a mesma que agride nossos idosos nas ruas, que ataca os homossexuais, que viola nossas filhas”. Para o Servir al Pueblo, trata-se de hipocrisia pura. O jornal denuncia:
“Nada disso importa a eles quando os agressores de idosos são policiais reprimindo a greve dos metalúrgicos em Cádiz. Não se importam quando homossexuais são assassinados por espanhóis… Tampouco se importam com os feminicídios. O verdadeiro objetivo é promover o terrorismo contra os imigrantes. Não importa quantas mentiras sejam necessárias para legitimá-lo.”
Durante os atos promovidos pela extrema direita em Torre-Pacheco, a polícia permitiu que os grupos fascistas espancassem e perseguissem imigrantes com total impunidade, relata o jornal.
Grupo nazista convoca ‘caçadas’ a imigrantes
A situação se tornou mais grave com a atuação do grupo abertamente nazista “Deport Them Now”, que atua em articulação com o Vox. A organização publicou em redes sociais um sinistro chamado para realizar “caçadas” entre os dias 15 e 17 de julho, mobilizando grupos armados de diferentes regiões da Espanha.
Em comunicado, o grupo escreveu: “Convocamos caçada para os dias 15, 16 e 17 de julho. Patrulhas de bairro, investigação direta para localizá-los, e justiça direta para reuni-los com Alá. E se os demais magrebinos do povoado não colaborarem com a identificação dos culpados, eles se tornarão automaticamente culpados e pagarão pelo ocorrido.”
O texto termina com o mote franquista “Arriba España”. O grupo também publica vídeos nas redes sociais onde simula muçulmanos morrendo em câmaras de gás ou sendo espancados, além de apoiar abertamente o presidente nacional do Vox, Santiago Abascal, inclusive retratando-o como comandante nazista com uso de inteligência artificial – não como sátira, mas como exaltação.
Políticos ‘neutros’ lavam as mãos: ‘violência dos dois lados’
Enquanto os fascistas desfilam encapuzados e armados por Torre-Pacheco, as autoridades locais adotam um discurso de “neutralidade”. O presidente da região de Múrcia, López Miras (PP), pediu “paz de ambas as partes” – um “equívoco” cínico, já que há um lado claramente agressor. Enquanto isso, a polícia reforça sua presença nas ruas ao lado dos grupos fascistas, que atuam como grupos paramilitares racistas voluntários, como já ocorre com empresas privadas de despejo (as chamadas desokupación).
Um “jornalista” da emissora estatal RTVE também contribuiu para essa versão, dizendo que “a formação de patrulhas de bairro contra a delinquência” foi “uma iniciativa legítima em defesa da segurança”, mas que foram “capturadas por grupos radicais”. “Ora, o racismo era legítimo quando convocado pelo Vox, mas deixou de sê-lo quando a plataforma fascista aliada ao Vox entrou em cena! Assim, os ‘grupos radicais’ parecem brotar do chão, sem nenhuma origem explicável”, contesta o Servir al Pueblo.
Autodefesa organizada
O periódico democrático espanhol conclui a denúncia reafirmando a necessidade da organização popular combativa contra o fascismo: “É preciso elevar a autodefesa. Devemos cerrar fileiras para combater o chauvinismo imperialista e o terrorismo fascista. Se a reação se arma com facões e tacos, a resposta da classe deve ser proporcional. O proletariado deve se organizar e acabar com a impunidade fascista.”
“E, claro, é preciso banir do movimento operário a falsa ideia de que vivemos tempos de paz. Essa ideia é enganosa. Os acontecimentos nacionais e internacionais demonstram que vivemos tempos de guerra e que o proletariado deve se preparar para enfrentá-la. O contrário é levar a classe ao caminho da capitulação. Todos devem tomar a questão da autodefesa como algo urgente e necessário.”