
Em Portugal, aconteceu ao dia 15 de Maio a farsa das eleições legislativas, convocadas antes da hora devido à crise que abalou o governo de Luiz Montenegro.
Como dizia Eça de Queiroz num dos seus editoriais para o jornal «Distrito de Évora» em resposta ao velho Estado Português: “O país que tem visto mil vezes a repetição desta dolorosa comédia, está cansado: o poder anda num certo grupo de homens privilegiados, que investigam aquele sacerdócio e que a ninguém mais cedem as insígnias e o segredo dos oráculos.“
Mesmo com toda a propaganda do imperialismo, que disseminou através de numerosas contas falsas, milhões de SMS, materiais partidários e mil matérias nos monopólios de mídia embelezando esta fantochada reacionária, esta foi, mais uma vez, um retumbante fracasso. O rechaço das massas populares atingiu a marca de aproximadamente 4.8 milhões de pessoas que não compareceram às urnas ou votaram branco e nulo, o equivalente a quase 46% dos aptos a votar, de acordo com os dados da Secretaria Geral do Ministério de Admnistração Interna (SGMAI).
Estes números são muito significativos. Na última farsa eleitoral de 2024, a porcentagem atingiu 48,5%, seguido de 51,4% em 2019, expressando a estabilidade de uma tendência para o boicote já posta pelas massas operárias e populares portuguesas e evidenciada por Nova Aurora anteriormente.

Se forem tomados os dados isoladamente, a dimensão do fracasso fica ainda mais evidente. Se o boicote eleitoral fosse um candidato, este venceria a todos os candidatos partidários sem exceção: o mais votado, o próprio Luís Montenegro (AD), alcançou aproximadamente só 31,8% dos votos válidos, uma diferença de 14,2% percentuais a favor do boicote à farsa. Mesmo se tomássemos só os que votaram nulo e branco como critério, somam-se 4,12% (aprox. 260 mil votos), desbancando o quinto partido mais votado, o Livre.
A falsa “esquerda” oportunista, mesmo com toda a parafernália e choramingo de “derrotar o fascismo nas urnas”, teve pesadas derrotas. Somando o PS, PCP-PEV, PAN, BE e Livre, partidos numericamente relevantes para este campo, somam um total de 33,18% dos votos, perdendo para o boicote com uma diferença de 12,82%, provando uma vez mais o falimento de seus fins eleitoreiros. O Chega, partido da extrema-direita chefiado pelo ultrarreacionário André Ventura, teve um relativo aumento de 4% frente à farsa anterior, subindo de 50 para 60 assentos na Assembleia Nacional, representando um ascenso mais deflagrado à tendência de fascistização da República Portuguesa.
O significado político deste resultado
O expressivo boicote eleitoral empreendido pelas massas populares demonstram diversos indicadores importantes. O primeiro e o mais importante de todos é que este foi um duro golpe na democracia burguesa do velho Estado português: longe de ser uma “inconsequência” ou “acriticismo” das massas, argumentos apontados pelos parlamentares, partidos e seus apologetas, refletem uma total descrença com o estado atual das coisas e o clamor por uma nova sociedade, surgida através da prolongada luta pelo poder político.
Isto é a expressão concentrada do nível em que chegou a crise de decomposição do imperialismo em Portugal. Em uma constante crise política, o velho Estado português e suas classes dominantes não conseguem mais garantir a legitimidade de suas instituições nem de seus partidos em totalidade. Seus governos de turno, tendo todas frações partidárias das classes dominantes da “esquerda” à direita passado por eles desde os anos 70, que constantemente atacam os direitos mais fundamentais das massas populares e reprimem as suas lutas, estão cada vez mais desmoralizados.
A ascensão do Chega, de seu chefete André Ventura e de suas posições políticas fascistas, longe de ser um “logro”, representam tão-somente a tentativa de capitanear a frustração de sectores das massas populares com outras frações da velha política portuguesa. A falsa “esquerda” encabeçada pelo dueto PS-PCP vinha cumprindo este papel desde os grandes levantamentos populares de 1974, desviando a justa revolta e luta das massas para fins eleitoreiros, promessas de campanha e os limites legais impostos desde cima, servindo ao velho Estado português até o seu desgaste total. As classes dominantes portuguesas, visando conter a crise política permanente, precisam renovar sua “cara” bem como prosseguir em desviar as massas com um discurso populista, antissistema em forma mas parte do mesmo pântano de sempre, enquanto abrem caminho para o fascismo como forma mais concentrada e violenta de barrar a luta de massas. Nisto, o Chega e seus asseclas são especialistas, suprindo o lugar que a falsa “esquerda” e os “centristas” ocupavam de tempos em tempos.
Por último, estes números demonstram uma vez mais que as massas percebem ser impossível quaisquer mudanças pelas instituições da falsa democracia, se jogando cada vez mais à luta e aguardando um caminho que, para além de garantir seus direitos mais fundamentais, jogue ao lixo toda essa velha ordem existente, construindo os instrumentos e meios necessários para isso. Aos revolucionários, democratas e elementos conscientes portugueses, corresponde submergir mais e mais nas massas mais fundas e profundas, mobilizando, politizando e organizando-as em meio aos seus combates, unificando paulatinamente as forças que permitam este objectivo e desfraldem este caminho, tão esperado e cada vez mais na ordem do dia.