
Foto: Reprodução/A Nova Democracia
O governo do presidente ultrarreacionário Donald Trump, representante do imperialismo ianque, vem a ampliar a escalada militar na América Latina, em particular na extremidade meridional do mar das Caraíbas, principalmente na costa da Venezuela. Aos últimos dias, o Estado imperialista ianque confirmou o envio de artilharia militar naval e aérea, com milhares de marinheiros e mísseis apontados para o país.
As tensões na região elevaram-se a níveis maiores o último dia 02/09, quando a República Bolivariana da Venezuela (RBV) denunciou, em uma coletiva de imprensa no Palácio de Miraflores, a produção de um vídeo pelo aparato político-militar do imperialismo ianque (governo de turno e Pentágono) a simular um bombardeio a um navio “ligado ao tráfico de drogas”, através de inteligência artificial. Medias pró-ianques na região e redes sociais nos EUA repercutiram o vídeo, onde se pode ver um avião a lançar e explodir duas bombas em um navio. Investigações da RBV mostraram que estes navios são simulações de barcas comuns na península ne Araya, no estado de Sucre.
Este movimento dos EUA expressa uma tentativa de forçar uma guerra psicológica para cima da nação venezuelana, fustigando a invasão e a ocupação militar no país. Tal episódio específico expressa, como apontado pela imprensa popular e democrática brasileira A Nova Democracia, «aponta maior grau de sofisticação do imperialismo em espalhar falsidades a fim de criar “opinião pública” para bombardear países». Segundo a mesma matéria, o governo de turno bolivariano mandará as provas para a Organização das Nações Unidas (ONU).

A justificativa dada pelo imperialismo ianque é a de “combate ao narcotráfico”, desculpa típica usada para intervir em semicolónias/colónias do mundo, visto que 90% da cocaína produzida na América Latina possui como credora finanças, empresas e bancos ianques, ou é consumida no seu território ou passa por ele para ir a outros países, de acordo com dados do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC). Esta mesma justificativa já foi usada como fator para intervir no Peru aos anos 90, em vias de deter a crescente Guerra Popular que se desenvolvia no país sob a direção do Partido Comunista do Peru (PCP) e outras do mesmo tipo (como o clássico “terrorismo”) já foram soltas para justificar a ocupação colonial direta de países como Afeganistão (2001) e Iraque (2003).
Reações na América Latina
O governo de turno de Nicolás Maduro, ao ser noticiada a aproximação da artilharia de guerra ianque, convocou cerca de 4,5 milhões de milicianos populares em diversos níveis, bem como milhares de militares na fronteira com a Colômbia (país provável de uso pelos EUA como base para ataques diretos ou indiretos), declarando que “se a Venezuela fosse atacada por forças estrangeiras, nos declararíamos uma república em armas, e todo o povo se lançaria na luta armada nacional, como libertadores do século XXI”. Decerto, uma invasão transformaria a Venezuela num palco de grande resistência popular anti-imperialista, visto que as mobilizações foram apoiadas por grandes setores das massas e das forças armadas venezuelanas.
O governo de turno lacaio na Guiana expressou apoio às intervenções ianques na Venezuela. Ao último dia 01 de Setembro (segunda), o presidente reacionário guianês, Irfaan Ali, declarou cinicamente que “apoiaremos todos os esforços para garantir que continue sendo uma zona de paz”, enquanto Nicolás Maduro afirmou que a Guiana está a criar uma “frente de guerra”. O governo de turno guianês é comandado pelo Partido Popular Progressista/Cívico (PPP/C), partido da falsa “esquerda” oportunista que é partícipe do “Encontro Internacional de Partidos Comunistas e Operários” junto ao “Partido Comunista Português” e outros partidos similares.
A presidente do México, Claudia Sheinbaum (MORENA), também apoiou a intervenção na Venezuela, ainda que tenha pontuado que isso não deveria gerar “nem submissão, nem invasão”, tentando disfarçar a capitulação frente ao imperialismo ianque. Outros governos de turno, como o brasileiro (Luiz Inácio/PT), também deram declarações, mas não realizaram nenhum movimento prático de condenação; neste caso, foi denunciado pelo A Nova Democracia que o oportunista Luiz Inácio reforçou a famigerada “Operação Atlas”, patranha conjunta com o imperialismo ianque de estacionar tropas à fronteira com a Venezuela, no norte do país; bem como a presença de aviões sem identificação, pertencentes ao 150º Esquadrão de Operações Especiais da Força Aérea ianque, em “missões secretas” nas cidades de Porto Alegre e São Paulo.

Organizações populares de diversos países latino-americanos realizaram inúmeras declarações de repúdio e manifestações ao intervencionismo, denunciando que tal episódio fúnebre pode significar o princípio de intervenções mais pesadas do imperialismo ianque em outros países da América Latina. O Movimento Popular Peru, organismo do Partido Comunista do Peru (PCP) para trabalho no estrangeiro, publicou uma nota periodística sobre a situação, condenando as ameaças aos países latino-americanos em geral e à Venezuela em particular. Vê a nota na íntegra ao clicar aqui.
A disputa inter-imperialista por países inteiros no subcontinente e o barril de pólvora a explodir
Apesar da justificativa relativa ao “narcotráfico”, foi revelado por fontes ligadas às inteligências militares latino-americanas que o real motivo destes fustigamentos é a disputa interimperialista com o imperialismo russo e o social-imperialismo chinês, que vêm movendo os seus peões no tabuleiro da divisão dos países do terceiro mundo, incluindo Portugal, entre si. Esta disputa ocorre em várias regiões do mundo, como o Médio Oriente Ampliado (Israel e monarquias árabes), Leste da Europa (Ucrânia), África e, principalmente, o Pacífico Sul, tendo como centro de gravidade Taiuã. Isto põe o imperialismo ianque numa posição de retaguarda quanto à América Latina, visto que têm de sustentar diversas posições bélicas contra Moscou e Pequim, o que indica que uma invasão é pouco provável: ou seja, essas movimentações do imperialismo ianque é, de fato, mostrar quem manda em seu costumeiro quintal que é o subcontinente.
Nos últimos anos, a penetração do capital imperialista russo e social-imperialista chinês vem a crescer substancialmente. No Brasil, 14 estados e o Distrito Federal possuíam a China como principal destino de suas exportações em 2019 (durante o governo de turno ultrarreacionário de Jair Bolsonaro), de acordo com dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços. A potência social-imperialista também injeta biliões de dólares em investimentos tecnológicos, como portos, ferrovias, aprimoramento da agricultura latifundista, energia e internet, enquanto a Rússia imperialista investe principalmente em pesquisas aeroespaciais e atómicas.
Todas essas movimentações políticas, militares e económicas têm como plano de fundo abalar a hegemonia do imperialismo ianque, que é a superpotência hemegónica única nos dias de hoje e está a convulsionar profundamente interna e externamente como resultado da crise de decomposição do imperialismo. Isto também expressa, na disputa interimperialista, a tentativa de demais potências como Rússia e China em contornar as convulsões em seus próprios países, a utilizar-se progressivamente da pilhagem de países inteiros para atingir este fim.
Outra razão implícita para a interferência ianque é o crescimento vertiginoso da rebelião popular em todos os países da América Latina, o qual o põe em desespero pois ameaça consideravelmente perder o seu elo mais débil. No Brasil, os camponeses, sob direção da Liga dos Camponeses Pobres (LCP), realizam avalassadoramente uma poderosa Revolução Agrária e combatem diuturnamente as maquinações do imperialismo, do velho Estado de grandes burgueses-latifundiários e do oportunismo, enquanto nas cidades se forja a sua defesa e o crescimento de um poderoso movimento democrático-revolucionário, cenário acompanhado em outros países da região como a Colômbia, Equador e México. No Peru, a Guerra Popular segue com ações militares implacáveis contra infraestruturas e contingentes lacaios do capital imperialista e do latifúndio.
Todo esse cenário eleva a explosividade das massas em geral no continente, e são o prenúncio de grandiosíssimas tormentas para todo o sistema imperialista mundial.