Foto: Banco de dados Nova Aurora
Faz aproximadamente um mês desde que cessaram as demolições no Bairro do Talude Militar (Catujal), adiadas por uma providência cautelar de movimentos populares. Neste local, famílias que viviam em lares autoconstruídos, as chamadas “barracas”, tiveram as suas casas destruídas após a autarquia de Loures — liderada pelo reacionário Ricardo Leão (PS) — emitir editais que ordenam a desocupação e a demolição das mesmas, que são inteiramente habitadas por imigrantes. Dada a omissão ativa do velho Estado frente ao problema da habitação, alguns dos nossos correspondentes em Lisboa decidiram ir presencialmente investigar a situação.
Antes mesmo de se entrar no Bairro, a longa escadaria irregular e os fios entrelaçados pelo céu junto da paragem de autocarro preparam a pessoa para o que vai surgir adiante. Subidos os degraus, é revelada uma longa estrada de terra batida e o primeiro choque salta à vista, numa área considerada protegida, dezenas de sacos e mais sacos do monopólio imperialista de construções francês Leroy Merlin espalhados pela área, contendo escombros das casas, alguns tapetes, toalhas e roupas, muito provavelmente deixados pelo velho Estado depois de demolirem as casas como uma forma de tentar intimidar as massas locais.

Os criminosos, na sua soberba habitual, conhecendo a impunidade do velho Estado perante as suas atitudes, lançaram ali o que sobrou, sem se importar com os moradores do bairro e com os crimes ambientais que podiam causar. Além disso, o facto de em meio aos escombros ter bens pessoais mostra que as pessoas não tiveram tempo de tirar tudo antes das demolições, perdendo grande parte do que possuíam.
O cenário que encontra-se ao chegar no Bairro é desolador: metros e metros de escombros e terra misturada com lixo, onde antes viviam dezenas de famílias. No meio de destroços, viam-se muitos objetivos pessoais deixados na confusão dos despejos, chinelos de crianças e livros escolares.

Ao redor das poucas casas que restaram, vêem-se algumas tendas, que segundo moradores são ocupadas pelas pessoas que tiveram as suas casas demolidas e não conseguiram arranjar outro lugar, apesar das promessas vazias da Câmara de Loures. Quem lá mora já conhece os truques do velho Estado para dividir famílias e tomar o pouco que aquelas pessoas esquecidas por este têm.
A resistência de quem ousou desafiar o velho Estado as demolições por quem as viveu
Mal chegamos ao centro do Bairro, pelo menos naquilo que é mostrado pelos monopólios de média da grande burguesia e do latifúndio, fomos instruídos aos nossos correspondentes conversar com a liderança local. Chegando na casa indicada, fomos bastante bem recebidos e o homem explicou ser o chefe da comunidade de São Tomé e Príncipe, sendo ele responsável pela administração dentro do possível daquela região do bairro, que é absolutamente gigantesco, abrigando imigrantes de São Tomé, Guiné, Cabo Verde, Brasil e Angola. Ele imediatamente aceitou realizar uma entrevista.
Contando um pouco da história do local, ele mencionou que o mesmo tem 30 ou 40 anos, e que por todo este tempo o povo do Talude tem travado uma longa luta de resistência, superando a todas as demolições, que sempre foram um problema recorrente.
Nas últimas demolições, porém, outros moradores do bairro afirmam que não houve nem mesmo qualquer aviso. A Câmara colocou um mísero papel na frente das casas das massas a informar que, em 48 horas, tudo seria demolido. A única pessoa com quem tiveram coragem de negociar foi o chefe, que tratou de avisar a todos, mas de nada adiantou, já que o prazo não mudou. 48 horas depois, sem lugar para pernoitar, dezenas de famílias perderam tudo.
Durante a longa conversa, os nossos correspondentes foram informados de episódios absolutamente absurdos no dia das demolições: a polícia apontou armas para a população que resistia e começavam a gritar coisas como “acalma-te ou levas uma bala!” ou “vais ficar com a perna bamba!”, além disso, algumas pessoas que participaram ativamente da resistência relataram que várias membros do bairro, incluindo mulheres, algumas grávidas, deitavam-se em frente às máquinas para tentar impedir a demolição das suas casas, levando a repressão do velho Estado, a polícia, a espancar com bastões e pontapés até os defensores do bairro abandonarem a sua justa ação de resistência.

Alguns dos entrevistados denunciaram o carácter racista da polícia portuguesa, pois “é impossível buscar qualquer diálogo com eles, já que eles só buscam a violência”.
As crianças, para muitos, são as principais prejudicadas. Vivem no meio de situações traumatizantes, mescladas com uma violência policial cada vez mais ascendente, que espanca e prende vizinhos e amigos.

A imprensa monopolista, repercutindo as falsidades arrotadas pela Câmara reacionária de Loures, propagandeia que esta teria “ajudado” as famílias despejadas, o que mostrou-se mais uma mentira do velho Estado. Não houve auxílio absolutamente nenhum, e o “auxílio” que ofereceram nenhum dos moradores aceitou, por ser por trás dos panos uma armadilha: oferecem casa com pouquíssimos meses de arrendamento pagos, e quando esgota-se o tempo, têm de começar a pagar renda de quase 900€, afundado-se em dívidas e mais dívidas, e em muitos casos acabam mesmo por ter as crianças retiradas, como relatou um dos moradores.
A alegria do povo que resiste
Por mais que os reacionários tentem tirar tudo dos moradores do Talude, a verdade é que em cada rosto entrevistado um sorriso era evidente, sempre acompanhado de uma música animada de fundo. Toda esta disposição para levantar a cabeça e seguir em frente, como alguns que já reconstruiam as suas casas de forma heróica, expõe o espírito de perserverança que só um clima de resistência como o de Talude pode criar.
Ao bom humor que recheava o ar, juntava-se uma simpatia sem igual, de tal maneira que os nossos correspondentes foram convidados a juntar-se a um batizado e levados a experimentar iguarias da gastronomia angolas, deliciosamente temperadas, que acontecia na bela Associação para a Mudança e Representação Transcultural (AMRT) do bairro.
O que sentiram o nossos correspondentesao festejar junto das massas oprimidas do Talude não tem igual e escancara a farsa que a imprensa monopolista lixo e anti-povo divulga, de que os moradores seriam violentos ou resistentes a pessoas de fora.
Diante das imagens que trazem a revolta de qualquer pessoa honesta, faz-se mais necessário do que nunca elevar as heroicas massas populares do Talude na sua luta contra todos os que perpetuam a opressão que dura há mais de 30 anos, o velho Estado português lacaio do imperialismo e seus órgãos, como a autarquia de Loures e a polícia.

1 pensado em “Loures: A resistência das massas populares no Bairro do Talude Militar e o rastro de destruição deixado pela repressão do velho Estado português”
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