Foto: Reprodução/SIC Notícias
Com a morte de Francisco Pinto Balsemão (PSD), surge a necessidade dos revolucionários e democratas tomarem para si o debate e escancararem os seus crimes contra a classe operária e o povo português, negando as enganações remendadas pelos imperialistas, pela grande burguesia e pelo latifúndio, que o tenta colocar como um libertador das massas em todo o país.
Sangue sobre as ruas do Porto em 1982
Após a morte de Francisco Sá Carneiro (PSD), então o primeiro-ministro reacionário do VI Governo Constitucional, no acidente do Camarate, Pinto Balsemão toma tanto a liderança do partido como do governo, formando o nada diferente VII Governo Constitucional (1981) e, logo depois, do VIII Governo Constitucional (1981-1983), liderados pela AD (coligação que unia o PSD, Centro Democrático Social e o Partido Popular Monárquico).
É neste contexto político que acontece o 1 de Maio de 1982 no Porto, uma data cheia de polémicas, que começaram bem antes do próprio dia. O governo havia oferecido pela primeira vez à União Geral dos Trabalhadores (UGT), grupo sindical influenciado pelo PSD, o direito de ocupação da baixa da cidade, sendo negada a manifestação da Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses – Intersindical Nacional (CGTP-IN), grupo sindical liderado pelo “PCP”. Mesmo com a proibição, as massas decidem tomar a rua a gritar: “A baixa é do povo!”, sendo recebidas por um longo cordão de forças de polícia munido de escudos, bastões, G-3, pistolas e gases lacrimogénios.
Com o cair da noite, mesmo com pacificidade por parte das massas, o reacionário Magalhães Teixeira, responsável direto pelos pelotões de intervenção, ordena uma ofensiva contra as massas com força total. A violência reacionária correu rua por rua, tal como a Procuradoria-Geral da República descreveu: “[Os polícias] agrediram indiscriminadamente todas as pessoas que se encontravam à sua frente, à bastonada e a pontapé, e às vezes com obscenidades, independentemente do sexo e idade; quer arremessassem pedras ou nada fizessem; quer fossem em fuga ou simplesmente estivessem paradas, mormente abrigadas em paragens de autocarros ou nas soleiras dos prédios. Todos eram agredidos, muitas vezes de forma selvática e por mais de um elemento policial contra a mesma pessoa, mesmo que esta se encontrasse prostrada no chão e indefesa”.
No meio destes confrontos, perto da meia-noite, Pedro Vieira, de 24 anos, operário têxtil e dirigente sindical, ao sair do cinema com a namorada e amigos é colocado no meio dos conflitos e decide fugir das forças do velho Estado português. No percurso em direção a casa é perseguido e abatido com um único tiro nas costas vindo de um dos polícias.
Aproximadamente 2 horas depois, Mário Gonçanves, com apenas 17 anos, sem qualquer ligação com a batalha que vinha ocorrendo, olha incrédulo para toda a violência junto dos amigos, ao lado da Estação de São Bento. Numa tentativa de se esconderem, resguardam-se por trás de um muro, contudo o jovem decide espreitar. Outra bala mortal atinge a sua cara que se verte em sangue.
A estes assassinatos juntam-se dezenas de feridos, espancados sem pudor pela polícia. Um relato de Alfredo Mendes, na altura jornalista do Diário de Notícias, escancara bem a opressão das massas pelas forças de Francisco Pinto Balsemão: “Vi um polícia tentar atingir uma pessoa pelas costas. E só não o fez porque a arma encravou no momento do disparo”.
Seguiram-se investigações, mas não foi adiante, como não poderia deixar de ser. As balas disparadas que eram de um calibre usado apenas por mebros do Corpo de Intervenção graduados (comissários, chefes de esquadra e sub-chefes) nunca tiveram os seus nomes descobertos e a responsabilidade ficou lançada ao acaso de propósito pelo velho Estado, já que tanto a polícia, o governador civil e o ministro responsável negaram qualquer envolvimento, não tendo levado a qualquer consequência que seja.
Tal tática de repressão da justa revolta das massas já era bem conhecida pelas mesmas e escancara a origem política do Francisco Balsemão Pinto, apadrinhado pelo sucessor de Salazar, Marcello Caetano, que o colocou na Assembleia Nacional para dar um novo ar ao renovado regime fascista, numa aliança entre liberias e salazaristas. Esta aproximação deu ao futuro empresário e fundador do PSD todo um leque de formas de ataques aos operários, camponeses, estudantes, jovens e intelectuais progressistas de todo o país.
Expresso, “liberdade de expressão” ou propaganda política dos reacionários a serviço do imperialismo?
Durante toda a sua vida, Francisco Balsemão Pinto esteve ligado à defesa da “liberdade de imprensa”, causa que apoiou por servir aos seus interesses escusos, pessoais, ligados à classe a que pertencia: a grande burguesia.
É por esse motivo que aceita ingressar as fileiras da Assembleia Nacional fascista, como mencionamos antes, sob a narrativa farsesca de “renovar o Estado por dentro”, a chamada “Ala Liberal”, que pelos anos 70 dissimulava que a primavera marcelina podia despertar num verão quente de transformação; tudo para, ao fim, justificarem seus lugares rendosos no seio do velho Estado português. Para as massas populares mais fundas e profundas de Portugal, a realidade era mais semelhante a um outuno de repressão. As prisões e mortes intensificaram-se, como no exemplo da martirização de José António Ribeiro Santos, membro da Federação de Estudantes Marxistas-Leninistas (FEM-L) morto pela PIDE/DGS em 1972 a tiro.
Segundo um dos admiradores do Francisco Balsemão Pinto, Henrique Raposo, “quem fez decretos-lei que visavam o fim da censura e das prisões políticas não foi Soares ou qualquer socialista ou comunista, mas sim Pinto Leite, Balsemão e Sá Carneiro”. Enquanto os ditos “socialistas” do “PS” e comunistas caíam pelas ruas, a clique de Balsemão, Sá Carneiro e Pinto Leite fazia jogos e joguetes com o fascismo, legitimando o seu controlo de ferro e fogo sobre as massas, principalmente as operárias e camponesas. Samora Manchel, num discurso em 1974, vai contrariar a tese que mais tarde a “Ala Liberal” vai tentar fabricar para sair impune, ao criar uma suposta esperança que existia ao regime na altura: “A prática do colonialismo português e da guerra de agressão em nada foram alteradas pelas melhores ou piores qualidades humanas de Marcelo Caetano, quando este substituiu Salazar, da mesma maneira que a prática criminosa e assassina da PIDE persiste sob o novo nome de DGS”.
A verdade é que os crimes de Marcello Caetano já eram mais do que conhecidos quando a patota liberal decide juntar-se a ele e colaborar com o seu exercício terrorista, e por mais que alguns prisioneiros tenham sido poupados às mãos da trupe de Balsemão, a realidade é que as vítimas em África e nos rincões portugueses só aumentavam, mostrando que para tal grupelho serviçal das classes dominantes e do imperialismo existiam seres humanos de primeira e segunda classe, já que qualquer posição e, melhor, prática contra o genocídio em África, a guerra fascista contra os povos nativos e as prisões e martirizações dos revolucionários e massas em luta foi tomada.
Estes factos mostram que a ideia de defesa de uma suposta “liberdade de expressão” advinha de um misto de interesses económicos e da pugna entre sectores liberais e fascistas da grande burguesia e latifundiários portugueses. Nada aqui advém de uma defesa do direito e da das massas pobres e oprimidas: elas não são mencionadas, são colocadas no esquecimento, como revelado na opinião do grupelho sobre a Guerra Colonial, onde acreditavam ser necessário não só armas, como o “convencimento das populações exploradas”, palavrório que ao fim justificava, nos atos, o contínuo genocídio dos povos das então colónias portuguesas.
A pugna entre os liberais e os fascistas leva ao fim temporário do “sonho precoce” dos planos do projeto demoliberal para uma “nova” velha república portuguesa, levando-os, sobre alçada de Francisco Balsemão Pinto, a criar um jornal de propaganda liberal, o monopólio de média Expresso. Nele figuras como Sá Carneiro, Marcelo Rebelo de Sousa e outros debitavam sobre os mais variados assuntos com todo o palavreado e misticismo burguês à mistura, delineando o papel anti-povo que tem esta imprensa. São nessas páginas que foi anunciado na altura o PPD, atual PSD, mais um partido inimigo da classe operária e do povo, gerente de todas as crises até então com os mais variados partidos da Assembleia da República, sendo Francisco Pinto Balsemão o seu militante N⁰1.
Isto coloca sobre o grupo Impresa, pertencente aos resquícios da família Balsemão, um prego na sua tese de “imparcialidade” típica das narrativas dos monopólios de média dos grandes burgueses e latifundiários. A “imparcialidade” da grande burguesia e do latifúndio era tal que todo o partido comentava nas páginas do Expresso. A cara, ao fim, nem arde.
A revisão da Constituição aprofundou o atamento de Portugal ao imperialismo
“Existiam, para o nosso País, duas grandes causas concretas pelas quais valia a pena lutar, dois objetivos essenciais a atingir no curto prazo: a revisão da Constituição, eliminando o papel predominante dos militares, e a negociação e entrada do nosso país na então CEE – Comunidade Económica Europeia”, escreveu Francisco Pinto Balsemão nas suas Memórias.
Unido ao oportunista Partido Socialista (PS), Balsemão apertou a mão de Mário Soares para começar o processo de venda das poucas conquistas arrancadas nos levantes populares de 1974, sendo o início das negociações para a entrega de Portugal à “União Europeia”, então em pugna entre os vários países imperialistas na Europa (sobretudo o alemão e o francês). Esta decisão mais tarde levaria às vastas privatizações levadas a cabo por Cavaco Silva (PSD) e António Guterres (PS), pondo-as directamente nas mãos dos gerentes imperialistas em nosso país.
Quebrar o monopólio de imprensa do imperialismo e entregar a verdade ao povo
Ao contrário do que os reacionários propagueiam feitos papagaios, não foi Balsemão que lutou pela liberdade de imprensa, e sim, as massas portuguesas durante os gloriosos levantes populares de 1974, junto dos democratas e revolucionários que lutaram e lutam por fazer chegar ao povo as principais notícias nacionais e internacionais que a média tenta encobrir com o perfume do latifúndio e da grande burguesia exploradora, criando narrativas falsas a verdadeiros inimigos de classe, que em vida venderam e exploraram o povo português.
A estes cúmplices do imperialismo só nos resta erguer a bandeira da resistência do Barroso e do Talude bem alto, junto das lutas internacionais no Brasil, Filipinas, Peru, Índia e Turquia, levanto desta forma ao povo oprimido de todo o país um farol luminoso que os guiará na sua luta de libertação contra os seus velhos inimigos.
