
O presidente chinês Xi Jinping (D) se encontra com o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu (E) no Grande Salão do Povo em Pequim, em 9 de maio de 2013. Foto: Kim Kyung-Hoon/AFP via Getty Images
Partilhamos importate material publicado originalmente na imprensa popular e democrática brasileira A Nova Democracia. Algumas alterações linguísticas foram feitas a facilitar a leitura.
Nos últimos anos, a China tem se arvorado como um defensor da causa Palestiniana. Em assembleias da autointitulada Organização das Nações Unidas (ONU), emissários chineses defenderam o direito do povo palestiniano à luta armada por libertação e denunciaram um “desastre humanitário” em Gaza.
Contudo, a retórica chinesa pró-Palestina esconde uma vasta rede de relações de Pequim com a entidade sionista, na qual bilhões são gastos em negociações, empresários chineses participam majoritariamente no quadro de acionistas de conglomerados israelitas, armas chinesas são usadas em operações no território palestiniano ocupado e a estratégia de “guerra ao terror” de Israel é aplicada pela China na opressão a minorias nacionais.
Essas relações começaram a se aprofundar em 1976, depois que o líder direitista Teng Siaoping coordenou um golpe no Partido Comunista da China (PCCh) e no governo socialista da República Popular, prendendo e assassinando milhares de quadros comunistas e dando início ao processo de restauração capitalista no país. A importante dirigente comunista Chiang Ching e quadros como Chang Chun-chiao, Wang Hung-wen e Yao Wen-yuan foram presos nesse processo.
A China socialista repudia o sionismo
Antes do golpe, a China mantinha uma firme defesa e apoio à causa Palestiniana e rejeitava as tentativas de aproximação de Israel. Em 1955, o primeiro-ministro Chou En-Lai comparou a questão Palestiniana com a de Taiwan, para onde os fascistas do partido Kuomitang fugiram depois do triunfo da Revolução Chinesa e criaram uma falsa “República da China” com apoio do Estados Unidos, disse que “nenhum dos dois problemas poderia ser resolvido pacificamente.
Uma comparação similar foi feita pelo próprio Presidente Mao Tsetung em 1965, quando ele chamou Israel de “base do imperialismo”. “O imperialismo tem medo da China e dos árabes. Israel e Formosa [Taiwan] são as bases do imperialismo na Ásia. Vocês são a porta de entrada do grande continente, e nós somos a retaguarda”, descreveu Mao Tsetung. “A Ásia é o maior continente do mundo, e o Ocidente quer continuar a explorá-lo”, adiconou. “O Ocidente não gosta de nós, e precismaos entender esse fato. A batalha contra o Ocidente é a batalha contra Israel”.
Durante a década de 1960, o PCCh estabeleceu contato com os partidos palestinianos Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP), Frente Democrática para a Libertação da Palestina (FDLP) e Fatah e se tornou o primeiro Estado não-árabe a apoiar a Organização para a Libertação da Palestina (OLP).
Em março de 1965, o líder da OLP Ahmad Shukeiri visitou Pequim e negociou o primeiro acordo de armas da organização com a China. A viagem terminou com a criação de um escritório diplomático da OLP no país asiático.
Durante seis anos entre 1965 e 1971, a China instruiu guerrilheiros palestinianos em treinamentos militantes e instruções do Pensamento Mao Tsetung sobre guerrilha e a doutrina da Guerra Popular.
Com o início da Revolução Cultural (1966-1976), a China acabou com todas as relações diplomáticas com os países árabes, exceto o Egito, mas manteve e até ampliou o apoio com organizações de resistência palestiniana, como mostra o estudioso Shai Har-El no livro China e as organizações palestinianas (1964-1971).
Depois que a China entrou nas Nações Unidas em 1971, ela continuou a apoiar a causa palestiniana. Em 1971, sediou uma Semana Internacional da Palestina, que incluiu comícios públicos, exposições e exibições de documentários sobre o povo palestiniano e a Associação do Povo Chinês para a Amizade com Países Estrangeiros organizou o evento com a Liga Árabe e a OLP.
Em 1974, uma embaixada da OLP foi reaberta em Pequim durante o verão de 1974 e, no ano seguinte, a China apoiou a Resolução 3379 da Assembleia Geral da ONU de 1975, que equiparou o sionismo ao racismo.
O golpe revisionista negocia com o sionismo
Com o golpe de Teng Siaoping, a China começou a reduzir seu apoio à causa Palestiniana, apoiou, os acordos de Camp David em 1978, que foram feitos de forma secreta entre o Egito, Israel e EUA para dividir os territórios palestinianos, e começou a aprofundar as relações com o sionismo.
Na década de 1980, a China começou a estabelecer uma série de acordos secretos com Israel e tanto Pequim quanto Telavive receberam delegações de acadêmicos, especialistas, empresários e burgueses de cada um dos países.
Em 1987, o primeiro-ministro de Israel Shimon Peres criou a primeira empresa estatal para negociar com a China.
Na década de 1990, a China apoiou os Acordos de Oslo entre a OLP e Israel, apesar da oposição de importantes setores do povo palestiniano, estabeleceu relações diplomáticas plenas com a entidade sionista e deu início a uma série de aproximações com o governo israelita.
Essa série de ações criou a base necessária para o estabelecimento da vasta rede de relações hoje existente. Essa rede é tão grande que, em 2020, a China passou a exportar mais para Israel do que o EUA, embora ela não importe tanto da entidade sionista quanto os ianques. Em 2024, já em meio ao genocídio em Gaza, a China movimentou 500 milhões de dólares a mais em trocas com Israel do que os sionistas e os ianques.
O número é ainda mais gritante quando comparado com as trocas feitas com a Palestina. Em 2021, as trocas comerciais entre a China e Israel movimentaram 16,2 mil milhões de dólares, enquanto as trocas entre Pequim e a Palestina movimentaram 88 milhões de dólares, segundo dados publicados na revista eletrônica da Escola de Estudos Orientais e Africanos da Universidade de Londres.


Esse envolvimento conta com empresas estatais e conglomerados não estatais que são obrigados a serem “aconselhados” por um membro do PCCh revisionista que pode opinar nos rumos empresariais. Isso tudo indica que há inegável envolvimento e contribuição do Estado chinês na atividade colonial sionista.
Financiando o genocídio
Essas negociações envolvem itens militares, que tem grande peso em Israel porque ajudam na manutenção do genocídio do povo palestiniano e na agressão a outros povos do Oriente Médio. Entre 2023 e 2024, a China vendeu 54 mil dólares em itens como tonfas, espadas, revólveres e armas de ar comprimido ou mola para a polícia israelita.
Uma matéria publicada pelo portal monopolista Al Jazeera denunciou o uso de drones comerciais chineses fabricados pela DaJiang Innovation Company (DJI) em bombardeios de hospitais e abrigos durante o avanço genocida de Israel em 2024. Os drones também foram utilizados para vigiar prisioneiros palestinianos enquanto estes serviam como escudo humano para as forças de ocupação israelitas, prática considerada crime de guerra.

“Essa não é a primeira vez que drones da DJI foram modificados e utilizados por exércitos”, diz a reportagem. “Há relatos semelhantes a esse sobre ambos os lados na guerra entre Rússia e Ucrânia em 2022. Daquela vez, a DJI suspendeu suas vendas a ambos os países e introduziu mudanças no software que restringiam as áreas onde os drones podiam voar e limitavam a altitude máxima de voo. Porém, a DJI não parou de vender para Israel.”
Os drones chineses utilizados pelo estado sionista foram os DJI400, DJI Mavic, DJI Avata e DJI Acras, este último sendo utilizado para bombardear um centro de ajuda humanitária em Jabalia, Morte de Gaza, pertencente a uma ONG Turca chamada Fundação para os Direitos Humanos, Liberdades e Ajuda Humanitária (İHH). O Ministério da Defesa de Israel adquire os drones da DJI por meio de uma companhia chamada Hobbiz Ltda, que recebeu treinamento pela DJI, e também por outras distribuidoras.
Um breve relatório publicado pelo centro de pesquisas empresariais independente, Who Profits revela outras facetas do uso de drones chineses em Israel. Uma empresa de desenvolvimento de equipamento policial repressivo chamada ISPRA desenvolveu em 2015 um periférico de dispersão de bombas de gás lacrimogêneo, o sistema Cyclone.
Em 2018, o estado sionista utilizou drones para despejar bombas de gás lacrimogêneo sobre os manifestantes palestinianos durante a Grande Marcha do Retorno. O Al Jazeera denunciou a cumplicidade da DJI, que tomou ações contra o uso violento de drones durante a invasão russa na Ucrânia, mas que nunca se posicionou ou deixou de vender para Israel apesar de repetidos casos de uso de drones para violência e repressão policial.
Já uma investigação exclusiva do jornal A Nova Democracia encontrou evidências de que o lado chinês também estudou o uso de drones para repressão. Documentos de delegacias de polícia na China acessados pelo portal Wayback Machine mostram que desde 2014, auge da campanha chinesa de “Guerra ao Terror”, as agências de polícia chinesa investiram em Pesquisa, Desenvolvimento e Treinamento para uso de drones.
A delegacia de Tonghua reconhece várias vezes o uso da tecnologia como meio para despejo de bombas de gás e outros instrumentos de repressão policial, exemplificado pela sua constatação sobre o seu drone, o Tongfei Número 2. “[O drone] realiza a captura e a entrega remota de equipamentos e materiais com um manipulador controlado remotamente, lança itens com um paraquedas de descida lenta em condições de terreno complexas e lançá armas não letais, como bombas de fumaça, bombas de gás lacrimogêneo etc., quando necessário em um combate real.”, diz o texto publicado no dia 25 de Janeiro de 2014, e acessado por AND.
Os países imperialistas estreitam suas relações ao discutir como reprimir a legítima manifestação popular com mais eficiência e truculência. China, Estados Unidos e Israel formam um triângulo de desenvolvimento de estratégias de espionagem e desenvolvimento de tecnologias de repressão. Desse modo, a cumplicidade da China no genocídio em Gaza não é passiva. Ela investiu e dialogou com Israel e Estados Unidos sobre metodologias e tecnologias repressivas e a Palestina é um laboratório onde “Israel levará do 0 ao 1 e a China levará do 1 ao 100”.
Por outro lado, a China já foi criticada por israelitas terem encontrado armamentos chineses entre arsenais de grupos palestinianos como o Hamas, mas o analista de Defesa Dr. Patrick Bury comentou ao jornal monopolista britânico Telegraph que o mais provável é que essas armas tenham sido fornecidos para o Hamas pelo Irã.
“É possível que sejam coisas que o Irã comprou da China e que acabaram na mão do Hamas. Há outros agentes possíveis, mas isso é muito menos provável”, disse ele, que adendou que “a China não vai gostar de ver os iranianos fazendo isso com seus kits de infantaria e que o envolvimento de Pequim no treinamento de grupos palestinianos minguou depois da retomada de relações diplomáticas com Jerusalém em 1992”.
Construções em território ocupado
Outros investimentos chineses em Israel somam mil milhões de dólares e ajudam a manter estruturas em território ocupado. O Instituto para Estudos de Segurança Nacional de Israel escreveu em 2021 que a China investiu 1,2 mil milhões de dólares no setor agrícola israelita, 723 milhões de dólares no setor energético, 2,2 mil milhões de dólares em estruturas portuárias, 430 milhões de dólares no setor acadêmico, 2,4 mil milhões de dólares em minerais e 300 milhões de dólares em cosméticos. Some a isso os dois maiores campos de tecnologia da informação (1,1 mil milhões de dólares) e medicina (1,3 mil milhões de dólares).
Uma reportagem do Middle East Eye (MEE) publicada em 2025 denuncia como a China está silenciosamente ajudando a empresa da ocupação israelita. A matéria aponta que a China adquiriu parcialmente ou totalmente empresas sionistas, incluindo empresas de produtos domésticos como maquiagens ou alimentos. Essas empresas são beneficiárias diretas do genocídio contra os palestinianos e da ocupação colonial de seus territórios, utilizados para expandir negócios e instalar novas franquias de seus serviços a um baixo custo imobiliário. Isso leva o valor especulativo da empresa a aumentar, o que por sua vez agrada os acionistas.
Entre as empresas está a Ahava, uma marca de cosméticos que tem a base de sua fabricação na ocupação do território palestiniano Mitzpe Shalem. “Ahava, um alvo de uma campanha global de boicote, já foi identificada pela Assembléia Geral da ONU como parte de empreendimentos ilegais de assentamento”, diz a pesquisadora e especialista em política internacional chiunesa no Oriente Médio, Razan Shawamreh, ao MEE.
“O ex-embaixador Zhang Jun disse ao Conselho de Segurança da ONU em 2023 que: ‘Nós aconselhamos a Israel a coibir a crescente violência colonial na Cisjordânia para evitar o território de intensa disputa e a propagação do conflito.’ Seu sucessor, Fu Cong, repercutiu a mensagem, aconselhando Israel a ‘parar com suas atividades de ocupação ilegal na Cisjordânia.’ Mas e quanto ao envolvimento da própria China nessas atividades?”, questiona Shawamreh. “A agência de direitos humanos da ONU frequentemente denuncia empresas envolvidas em atividades associadas a ocupação colonial, e mesmo assim as companhias Chinesas continuam a nutrir tais colaborações.”
Os empresários chineses que adquiriram parcialmente ou totalmente as empresas sionistas também são beneficiários directos do genocídio. É o caso do acionista majoritário da Tnuva, empresa de alimentos que também opera linhas de transporte em território ocupado, adquirida em 56% pelo conglomerado chinês Bright Food. Há colaborações e investimentos também no setor médico, como a a Juva Medical, empresa chinesa que adquiriu parcialmente a empresa EndyMed para distribuir no mercado chinês as tecnologias desenvolvidas por Israel como aplicações de tecnologias de armas laser militares para fins de procedimentos estéticos.
Grupos empresariais chineses também adquiriram integralmente ou parcialmente várias empresas de caráter estratégico em Israel. Uma dessas aquisições foi a Adama Agricultural Solutions, comprada parcialmente em 60% no ano de 2016 de acordo com a Reuters e adquirida totalmente em 2017 pelo grupo ChemChina.
Os venenos fabricados por essa empresa muito provavelmente foram utilizados em operações aéreas de despejo de agrotóxicos desde 2014, para os quais os habitantes sionistas na fronteira receberam aviso enquanto os camponeses palestinianos não, resultando em envenenamento, contaminação da água e perda total da colheita. De acordo com o grupo Investigate “o Ministério da Defesa de Israel constata que o despejo é feito do lado israelita da fronteira e se recusa a revelar localizações exatas por ‘motivos de segurança’. Contudo, vários fazendeiros palestinianos tiveram suas plantações destruídas.”.
E continua: “a Cruz vermelha confirmou que os herbicidas ‘destruiram totalmente’ as plantações e contaminaram fontes de água localizadas num raio de 900 metros da fronteira. Também descobriu-se que os herbicidas prejudicaram plantações até 20 quilômetros dentro da faixa de gaza. A largura de toda a faixa de gaza é de 75 a 120 quilômetros. Durante a temporada de despejo do inverno de 2017 para 2018, os herbicidas afetaram 220 hectares de terras agrícolas e 1040 hectares de pasto.”
Nova Rota da Ocupação
Em 2013, já sob o governo de Xi Jinping, a China apresentou um megaprojeto chamado Uma Rota, Um Cinturão, hoje chamado de Iniciativa de Cinturão e Rota (ICR) ou a Nova Rota da Seda. Se trata de um megaprojeto internacional de exportação do capital chinês por meio da construção de megaestruturas em países, em sua maioria semicoloniais.

Nos últimos anos, a entidade sionista foi incorporada na ICR. Por meio desse megaprojeto, a China desempenhou um papel central na construção do Porto de Haifa, com o investimento de 1,7 mil milhões de dólares de conglomaerados portuários chineses, entre eles o Shanghai International Port Group, na construção do empreendimento concluído em 2021. O grupo portuário chinês venceu uma licitação para construir e então operar pelos próximos 20 anos a expansão do porto caso sejam respeitados os contratos.
O Porto de Haifa é um importantíssimo ponto para o abastecimento de Israel. O porto de Haifa é sede da própria marinha israelita e inclui uma nova instalação para abrigar novos submarinos classe Dolphin. Haifa regularmente recebe também simulações e exercícios navais em parceria israelo-ianque, além da visita de embarcações do Estados Unidos. Por isso mesmo, o local se tornou alvo de ataques da Resistência Nacional Iemenita em solidariedade ao povo palestiniano em Gaza. A Resistência Nacional Palestiniana também já atingiu a estrutura construída com apoio chinês.
As relações entre China e Israel se desenvolveu tanto que o EUA passou a exercer pressões sobre a entidade sionista para tentar boicotar esseslaços. Isso resultou na proibição, em 2025, da atuação da China na construção de vários setores de infraestrutura israelitas considerados sensíveis ou estratégicos, entre eles uma obra metroviária avaliada em 2 mil milhões de dólares.
O portal Railly News, um veículo dedicado a publicar notícias envolvendo metrôs e trens, escreveu que “essa decisão surpresa é, de acordo com relatórios oficiais, devido a riscos geopolíticos significativos como os laços da China Railway Construction Company com o setor militar da China e devido a ser colocado na lista negra do Departamento de Defesa dos Estados Unidos (railsecurity.org).”.
“Isso levantou graves preocupações entre oficiais israelitas quanto às possíveis implicações para a segurança e para as relações internacionais”, continua o portal. “Entende-se que as autoridades também terão que levar em conta possíveis sanções e pressões diplomáticas vindas de aliados internacionais caso essa licitação passe. Consequentemente, os trens elétricos da CRRC se tornaram uma complexa questão política, indo para além de um mero projeto de desenvolvimento de transporte público.”
Embora não tenha conseguido a licitação para esse projeto, outras obras de construção civil foram realizadas pela China Civil Engineering Construction Corp, entre elas a construção de 15 quilômetros de túneis na região norte de Israel e a construção da linha vermelha do metrô de Telavive, feita em parceria com a China Railway Tunnel Group.
Investimentos de grande porte são feitos por ou em parceria com empresas estatais chinesas como a China Ocean Shipping Company, China National Chemical Corporation, China Railway Construction Company, China Civil Engineering Construction Corp, somando mais de 30 de acordo com uma matéria publicada pelo China Daily.
Sionistas em território chinês
Os investimentos chineses em Israel não se limitam à área de território colonial ocupado – ela convida sionistas a participarem da pesquisa e desenvolvimento em seu próprio solo. No dia 22 de janeiro de 2025, o China-Israel Changzhou Innovation Park (Parque de Inovações China-Israel de Changzhou) convidou sionistas para comemorar os 10 anos de criação da instalação. O parque conta com 300 empreendimentos sino-israelitas, com 60 projectos de cooperação tecnológica, e 20 empresas israelitas já registradas em funcionamento.
Os benefícios oferecidos pelo parque de inovação incluem crédito, subsídios para proteção de patentes, locação de espaços em desuso, recompensas para investidores e programas de pesquisa e desenvolvimento que vão de 500 mil a 10 milhões yuan. O governo tamém oferece políticas de auxílio para colaboração entre universidades, pesquisa e desenvolvimento privados e indústria.
Thinktanks em universidades chinesas e a aliança 7+7
Um outro elemento que chama atenção na cooperação sino-israelitas é a Aliança 7+7, uma parceria entre 7 das grandes universidades de cada país.
Do lado da China, Universidade de Tsinghua, Universidade de Pequim, Universidade de Nanquim, Universidade de Renmin, Universidade de Shandong, Universidade de Agricultura da China e a Universidade de Agricultura e Floresta em Shaanxi compõem a parceria.
Já do lado sionista estão envolvidas na parceria a Universidade de Telavive, o Instituto Technion, a Universidade Hebraica de Jerusalem, o Instituto Weizmann, a Universidade de Ben Gurion de Negev, A universidade de Haifa e a Universidade de Bar-Ilan.
Esse projeto resultou em “mais de 100 propostas de projectos nas áreas de Biologia, Ciência dos Materiais, Saúde, Energia, Meio-Ambiente, Eletrônica, Aeroespacial e outros campos”, segundo o presidente da Universidade de Telavive, Joseph Klafter, em depoimento ao site oficial da universidade de Tsinghua.
Outro elemento de relação entre China e Israel é o grupo Sino-Israel Global Network & Academic Leadership (SIGNAL) (Rede Global e Liderança Acadêmica Sino-Israelita), um think-tank que atua em universidades chinesas para alterar a percepção pública sobre o conflito de Israel com o Oriente Médio.

O grupo SIGNAL foi fundado pela israelita Carice Witte e pela chinesa Guan Yuan. Um dos cursos oferecidos pelos professores israelitas do Signal está a “série sionismo”, ministrada por Yisrael Ne’eman, que entre outras ideias defende que “antissemitismo” é o mesmo que “antissionismo”.
Em um panfleto oficial da organização, o SIGNAL deixa claro sua ligação com o Estado chinês, com o PCCh e suas atividades nas universidades. “SIGNAL é a única organização Judia ou Israelita com programas por toda a China e que é membro da Associação de Think-Tanks da Rota da Seda da China, sob auspícios do Departamento Internacional do Comitê Central do Partido governante da China”, diz o texto.
Repressão a apoiadores da Palestina
No dia 7 de junho de 2024, 13,42 milhões de chineses fizeram o vestibular nacional do país. Na saída das provas, entre o nervosismo para entrar na universidade e o alívio de ter acabado a prova, muitos desses jovens reservaram um tempo para atos de protesto. “Vários locais de exame testemunharam estudantes balançando bandeiras da Palestina após deixarem a sala dos exames”, conta uma reportagem no site China Scope, que registrou manifestações em Hunan, Henan, Shandong, Heilongjiang, Jiangsu e Jiangxi. O mesmo jornal conta que “policiais foram vistos confiscando as bandeiras de alguns dos estudantes”.
O caso resume bem o complicado cenário pró-Palestina na China, em que uma imensa quantidade de jovens sentem-se impelidos a demonstrar sua solidariedade com o povo palestiniano, mas se chocam com a repressão do mesmo Estado chinês que, em conferências internacionais, ensaia discursos pró-Palestina.
O coletivo sinófono Palestine Solidarity Action Network (PSAN; Rede de Ação de Solidariedade Palestiniana) revelou detalhes de como Israel usa tecnologias chinesas na repressão aos palestinianos. Os dados foram publicados no portal New Politics.
“Nós agora exploramos um método central sobre como China e Israel colaboram para exercer sua ocupação colonialista a partir de tecnologia de vigilância”, escreveram os ativistas. “Um relatório de 2023 produzido pela Amnesty International em 2023, ‘Apartheid Automatizado’, identifica como tecnologia de vigilância chinesa, por meio de empresas apoiadas pelo estado como a Hikvision, alvejam os Palestinianos da Cisjordânia no seu dia-a-dia e mantem sobre eles um ambiente desumanizador”.
Eles contam que “as câmeras de CCTV sozinhas não são capazes de servir seu propósito como instrumento de vigilância com eficiência máxima; elas estão frequentemente ligadas a uma rede maior de infraestrutura física, de software e de sistemas de dados. Por exemplo, as câmeras da Hikvision enviam informação à 狼群 (Alcateia), um banco de dados utilizado por Israel contendo informações exclusivamente de Palestinianos da Cisjordânia, incluindo dados sobre licenças, membros familiares, endereços, placa de carro e se eles estão sendo procurados pelas autoridades ou não.”
Os ativistas também comparam a situação dos uigures, uma minoria nacional chinesa que vive principalmente em Sinquião, com a dos palestinianos. Os uigures tiveram seus dados biométricos, digitais, irises dos olhos e tipo sanguíneo armazenados em uma base de dados que coleta todo tipo de informação pessoal para a construção de um retrato digital multimodal para uso em perfilamento racial.
A reportagem de AND está ciente de que o Estados Unidos e seus agentes usam da repressão chinesa aos uigur para atacar o regime chinês e mover uma intensa contraporpaganda anticomunista, mas isso não exclui a verdade de que, de fato, a China reprime essa minoria nacional. Ao mesmo tempo, a retórica ianque só revela a própria hipocrisia da democracia burguesia do EUA, pois a tecnologia de câmeras com reconhecimento facial está presente também no Estados Unidos e, lá, cidadãos não-brancos são mais frequentemente parados pela polícia e submetidos a testes invasivos para reconhecimento facial. Além disso, regiões de com mais habitantes não-brancos têm uma maior concentração de câmeras compatíveis com tecnologia de reconhecimento facial.
O próprio coletivo PSAN pontua que “a luta contra o neo-Macartismo e contra a sinofobia no ocidente não precisa significar a defesa de outro Estado opressivo”. “Nosso chamado para desfazer-nos da Hikvision não tem como objetivo excepcionalizar o papel da China na violência, mas sim prover uma pauta mobilizadora para comunidades sinófonas em todo mundo para fazermos nossa parte para resistir ao papel das instituições chinesas em Israel e outros regimes de apartheid”, defendem os ativistas. “É muito difícil se manifestar na China, mas a presença transnacional da Hikvision significa que nós podemos identificar alvos para combater entidades de vigilância apoiadas pelo Estado chinês ao longo de todo o mundo.”
“Esperamos que nossa campanha contra a Hikvision, que é continuação de um movimento maior de Boicote, Desinvestimento e Sanções contra empresas Ocidentais e várias outras, encoraje uma posição critica contra todos os imperialismos”, continuam os ativistas. “Olhemos além daquilo que oficiais de estado dizem e prestemos atenção às conexões orgânicas entre as pessoas aqui no chão. Ouça as vozes de solidariedade entre palestinianos e uigures e apoie esses laços em combate às estruturas repressivas em comum.”