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Trump intensifica a pressão com tarifas de importação: quem paga a fatura são as massas
17 de Julho de 2025
No sábado, 12 de julho, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou novas tarifas de importação de 30% dirigidas à União Europeia e ao México. Antes disso, já tinha enviado cartas sobre tarifas a 14 países. As tarifas de importação entrariam em vigor a 1 de agosto. O México e a UE representam um terço de todas as importações para os EUA.
As tarifas de importação são uma forma de pressão: por um lado, para submeter ainda mais os países oprimidos ao imperialismo norte-americano; por outro, para enfraquecer imperialistas concorrentes. Neste contexto, a “criação de empregos” serve apenas de pretexto. Enquanto única superpotência hegemónica mundial, os EUA têm a capacidade de suportar perdas temporárias para reforçar a sua posição a longo prazo. As consequências da guerra comercial e os custos que ela acarreta para os monopólios são transferidos para as massas, enquanto os maiores monopólios engordam ainda mais. O governo dos EUA anunciou em junho que os preços subiram 2,7% em relação ao ano anterior após a entrada em vigor das tarifas, sinalizando uma aceleração da inflação.
No caso do México, o objectivo é submeter o país ainda mais firmemente ao controlo dos EUA e forçá-lo a adoptar várias medidas de militarização em benefício do imperialismo norte-americano, sob o pretexto da “guerra contra as drogas”. Já anteriormente, o governo de Sheinbaum no México capitulou perante as ameaças de Trump, depois de fazer alarde sobre a defesa da soberania nacional, e intensificou a militarização da fronteira entre os dois países. Trump escreveu na Truth Social: “O México ajudou-me a proteger a fronteira, MAS o que o México fez não é suficiente.” Para além disso, o objectivo é, naturalmente, negociar acordos que favoreçam os monopólios norte-americanos e enfraqueçam os seus concorrentes imperialistas. O México não anunciou medidas retaliatórias, mas confirmou que iniciou negociações.
Tarifas pesadas foram também impostas ao Brasil, que está sob ameaça de tarifas de até 50% (atualização feita por Nova Aurora: já aplicadas). Isto pode ser interpretado como um aviso ao governo brasileiro, que recentemente acolheu uma cimeira da organização BRICS, uma plataforma através da qual o imperialismo russo e o social-imperialismo chinês procuram expandir a sua influência global em meio a conspirações e disputas mútuas. O presidente brasileiro, Luiz Inácio da Silva, também apressou-se a bajular Trump.
No que respeita à UE, trata-se de enfraquecer concorrentes imperialistas, em particular a Alemanha, hegemónica dentro da UE, e a França, que lhe faz frente. Antes das mais recentes cartas sobre tarifas, circulavam informações de que as negociações entre a UE e os EUA estavam a correr bem, e que se discutia uma espécie de congelamento da situação actual — ou seja, manter as tarifas em torno dos 10%. Após isso, as negociações deveriam prosseguir sobre tarifas sectoriais, incluindo a ameaça de tarifas de 50% sobre produtos de aço e alumínio, e de 25% sobre, entre outros, automóveis. A UE tentava baixar essas tarifas nas negociações. Esperava-se um acordo, mesmo que não fosse especialmente vantajoso, e que, segundo a própria Comissão Europeia, não garantiria nada, revelando a fraqueza particular do imperialismo alemão.
As novas cartas sobre tarifas pretendem acelerar as negociações. Ao mesmo tempo, os conflitos internos entre as potências imperialistas da UE impedem uma actuação eficaz, e o imperialismo alemão não consegue unificar os restantes países sob a sua liderança. As grandes potências imperialistas, Alemanha e França, parecem adoptar abordagens distintas: a França expressou o desejo de tomar medidas retaliatórias mais duras, sugerindo o uso do instrumento europeu contra coerções económicas; a Alemanha, por sua vez, manifestou uma posição mais cautelosa, querendo aguardar o desfecho das negociações. A UE ainda não anunciou qualquer medida concreta de retaliação.
O imperialismo finlandês também se inclui entre os que defendem manter as medidas retaliatórias em cima da mesa, mas ao mesmo tempo deposita esperança nas negociações. Isso explica-se pelo facto de que “mesmo um acordo fraco seria melhor do que a incerteza”, como afirma o editorial do Helsingin Sanomat, no contexto das empresas exportadoras do imperialismo finlandês.
Entretanto, o “acordo por dia durante 90 dias” prometido por Trump falhou. Até ao prazo limite de 9 de julho, tinham sido concluídos apenas três acordos: com o Reino Unido, China e Vietname. Posteriormente, juntou-se também um acordo com a Indonésia. A data de entrada em vigor das tarifas foi novamente adiada. Isto não invalida, claro, a posição dos EUA como única superpotência hegemónica, mas mostra que essa posição não é tão forte quanto Trump gostaria de fazer crer.
A cimeira dos BRICS sublinhou as suas contradições internas e externas
22 de Julho de 2025
Nos dias 6 e 7 de Julho, a “aliança” BRICS realizou a sua 17ª cimeira, com o Brasil como anfitrião. Na essência, foram discutidos temas como a “multipolaridade”, as políticas aduaneiras de Donald Trump, o Médio Oriente e também a introdução de moedas ou instrumentos de pagamento alternativos ao dólar. Os dirigentes da Rússia e da China, Vladimir Putin e Xi Jinping, estiveram ausentes.
A cimeira teve lugar no Rio de Janeiro, no Brasil, o que implicou uma forte militarização da cidade para acolher esta reunião de um instrumento ao serviço dos interesses dos imperialistas. Uma vez mais ficou demonstrado como o governo oportunista do Brasil vende os interesses do seu povo aos imperialistas. O governo brasileiro mobilizou mais de 2000 militares para garantir a “segurança”. O presidente Luiz Inácio da Silva activou ainda as chamadas “garantias de lei e ordem”, que conferem aos militares poderes policiais — em contradição com promessas anteriores de nunca recorrer a tal medida.
Os BRICS são, originalmente, uma aliança de carácter sobretudo económico, composta alegadamente por potências “emergentes” e que procura desafiar o bloco G7. Desde o início, os BRICS têm sido uma plataforma para o aumento da influência do imperialismo russo e do social-imperialismo chinês, num jogo de intrigas e disputas internas. Para além destes, fazem parte da aliança nações oprimidas como o Brasil, a Índia e a África do Sul, bem como, actualmente, o Irão, os Emirados Árabes Unidos, a Arábia Saudita, a Etiópia e o Egipto.
Desde logo, os BRICS enfrentam um problema bastante fundamental. Por um lado, os seus membros conspiram entre si; por outro, há uma luta pela hegemonia entre o imperialismo russo e o social-imperialismo chinês. Embora o social-imperialismo chinês tenha força económica, é militarmente mais fraco. O imperialismo russo continua a ser uma potência nuclear, mas está economicamente debilitado. A China ambiciona tornar-se uma superpotência, o que molda a sua relação com o imperialismo russo. Em muitos países dos BRICS, o imperialismo ianque é o principal actor, como é o caso do Brasil e da Índia. A Rússia e a China carecem, portanto, da força política e militar necessária para fazer avançar a sua posição económica nos países oprimidos que compõem os BRICS, em concorrência com o imperialismo ianque.
Trump, por exemplo, tem utilizado tarifas aduaneiras para recordar ao Brasil que não lhe convém insurgir-se. O monopólio mediático brasileiro Correio Braziliense escreve mesmo, num artigo elogioso aos BRICS, que “o ‘americanismo’ tem sido a força motriz do desenvolvimento do país desde a Segunda Guerra Mundial.” Da mesma forma, o jornal indiano The Indian Express afirma num editorial que os BRICS não são capazes de defender os interesses da “Índia” (isto é, das classes dominantes que detêm o poder). Segundo o jornal, a aliança está repleta de contradições internas e os seus membros não podem ignorar a posição do imperialismo ianque.
Os BRICS não têm capacidade real para desafiar o imperialismo ianque, apesar de isso ser discutido há muito tempo. Na “aliança”, fala-se da “multipolaridade” do mundo, o que dá a entender que existe uma superpotência rival dos EUA, a única superpotência hegemónica mundial. Mas tal não corresponde à realidade. Outros imperialistas procuram, de forma cada vez mais evidente, desafiar o imperialismo ianque, mas enfrentam problemas profundos. Além disso, esta retórica sugere que países como o Brasil ou a Índia poderiam ascender a superpotências. No entanto, trata-se de nações esmagadas sobretudo pelo imperialismo ianque, e o seu desenvolvimento continua subordinado a este, não podendo assim evoluir para “novas superpotências”. A retórica da “multipolaridade” encaixa ainda na narrativa do imperialismo russo e do social-imperialismo chinês, que tentam apresentar-se como “anti-imperialistas”, supostamente defensores da autodeterminação e do desenvolvimento dos povos, ao contrário do imperialismo ianque. Na verdade, trata-se apenas de desenvolver a sua própria exploração desses mesmos países.
Contudo, as contradições intensificam-se. Falar da criação de um sistema de pagamentos alternativo é uma expressão clara da luta entre imperialistas e da tentativa de contestar a posição dos EUA — segundo um artigo do Wall Street Journal, esse esforço ameaça mesmo colapsar a economia internacional dominada pelos EUA. Ao mesmo tempo, esta questão é discutida há anos, e essa retórica serve também para justificar as acções cada vez mais agressivas dos EUA para manter a sua hegemonia. Na realidade, uma simples alteração no sistema de pagamentos não pode, por si só, derrubar a posição hegemónica dos EUA.