Foto: Representação/ Partido Comunista das Filipinas.
Nota da Revista Nova Aurora: Perante os recentes avanços do Partido Comunista das Filipinas e do Novo Exército Popular (CPP-NPA) na sua Guerra Popular Prolongada — que, há quase seis décadas, permanece invicta na libertação do povo filipino dos resquícios feudais e do domínio imperialista —, a equipa da Revista Nova Aurora realizou uma entrevista exclusiva com Marco Valbuena, porta-voz do Partido que conduz a luminosa Revolução nas Filipinas.
Revista Nova Aurora – Há quanto tempo o Partido Comunista das Filipinas dirige a Guerra Popular? Como caracteriza a etapa actual da Revolução?
Marco Valbuena – O Partido Comunista das Filipinas (CPP) tem dirigido a guerra popular prolongada desde que esta foi retomada em 1969, com a fundação do Novo Exército Popular.
Isto ocorreu cerca de uma década depois de os dirigentes revisionistas do antigo partido comunista terem abandonado a luta armada revolucionária e capitulado perante o Estado reaccionário.
A guerra popular prolongada permanece na etapa da defensiva estratégica (quando o exército revolucionário ainda não consegue se equiparar militarmente aos reacionários, então atua através de ações de guerrilha, sabotagem e confrontos diretos esporádicos). Ainda não foram resolvidos os problemas da passagem da fase intermédia para a fase avançada da defensiva estratégica, de modo a aproximar-se do equilíbrio estratégico (quando as forças revolucionárias passam a se equiparar ao exército do velho Estado no que diz respeito ao poderio militar) e, posteriormente, avançar para a ofensiva estratégica (quando as forças revolucionárias superam militarmente as forças militares da velha Ordem).
NA – Quais são os principais avanços estratégicos e os desafios mais críticos actualmente enfrentados pelo movimento revolucionário filipino?
MV – A principal conquista estratégica do movimento revolucionário nas Filipinas tem sido levar a cabo, incessantemente, a revolução democrática popular durante mais de cinco décadas e meia, sob a liderança do Partido Comunista das Filipinas. Partindo praticamente do zero, o Partido conseguiu construir o Novo Exército Popular (NPA) como um exército nacional em todo o arquipélago filipino.
Tem travado a guerra popular contra sucessivos regimes fascistas que actuam como Estados-clientes da mais poderosa potência imperialista do mundo — o imperialismo norte-americano. Todos os regimes reaccionários declararam o objectivo de esmagar o NPA. Todos falharam.
O movimento revolucionário continua a fortalecer-se através da agitação, organização e mobilização do povo filipino, especialmente das amplas massas de operários, camponeses e semiproletários, bem como da pequena burguesia e da burguesia nacional. O Partido dirigiu a criação da Frente Democrática Nacional (NDF) em 1973, que continua hoje a ser a expressão mais consolidada da frente única.
Nas últimas décadas, o povo filipino lutou e, por duas vezes, conseguiu derrubar regimes dominantes corruptos e fascistas.
Através dos esforços incessantes do Partido e das forças democráticas nacionais, o povo filipino está determinado a derrubar não apenas o regime reaccionário actualmente no poder, mas todo o sistema podre semicolonial e semifeudal.
O Partido continua a lançar raízes profundas e amplas entre as grandes massas do povo filipino, tanto nas cidades como no campo. Está determinado a levar a revolução democrática popular até à vitória completa, por mais longa e difícil que seja a luta.
Em Dezembro de 2023, o Comité Central do Partido lançou o movimento de rectificação, que impulsionou os quadros e militantes do Partido a estudar e aplicar com maior vigor o marxismo-leninismo-maoismo (MLM) para resolver os problemas pendentes que têm afectado o movimento revolucionário há muitos anos.
Está a ser conduzido um vigoroso movimento de estudo para reaprender o MLM e os princípios fundamentais do Partido, com o objectivo de superar o problema do empirismo. Ao reforçar a compreensão teórica dos quadros e militantes, os comités do Partido conseguem fazer balanços mais eficazes das suas experiências, identificar problemas e elaborar planos para os superar.
Unidades do NPA foram reorganizadas e redistribuídas com o objectivo de reforçar o trabalho de massas e reconstruir a base de massas. Quadros e militantes do Partido no movimento de massas também intensificaram a campanha contra o reformismo, legalismo, economicismo e parlamentarismo, que tendem a enfraquecer o apoio à luta armada revolucionária.
O Partido reconhece que ainda há muito trabalho a fazer. As condições objectivas, no entanto, continuam extremamente favoráveis, já que o povo filipino sofre formas ainda piores de exploração, opressão e repressão, e está cada vez mais despertado para se juntar à revolução.
NA – Em que medida as recentes acções tácticas do NPA, como as operações no arquipélago de Mindoro, influenciaram o equilíbrio local de forças e o moral das massas?
MV– As manobras defensivas activas e as ofensivas tácticas do NPA na ilha de Mindoro e em diferentes partes do país estão a ser realizadas no quadro da defensiva estratégica. Estas acções têm como objectivo preservar as forças das unidades guerrilheiras do NPA, frustrar as campanhas militares de ofensiva total do inimigo e desgastar a sua força pouco a pouco, parte a parte. Estas ofensivas e manobras defensivas, sobretudo quando obtêm vitórias contra unidades das Forças Armadas das Filipinas (AFP) conhecidas pelos seus abusos fascistas, inspiram as massas locais e encorajam-nas a defender os seus direitos de forma mais activa.
Alterações no equilíbrio local de forças, contudo, só podem ser alcançadas com o avanço geral da guerra popular. No passado, houve períodos em que a luta armada revolucionária avançou a um ritmo mais rápido do que aquele a que as forças armadas reaccionárias conseguiam formar e armar novas unidades de combate, o que resultou em mudanças palpáveis no equilíbrio local de forças.
Nos últimos 15 anos, porém, as forças armadas reaccionárias, financiadas e armadas pelos militares dos EUA, aumentaram o número dos seus batalhões de combate em cerca de 20%, com o objectivo de concentrar três a quatro batalhões contra cada frente guerrilheira do NPA. Existem, contudo, limites à capacidade do inimigo para expandir ainda mais as suas forças armadas, perante a grave crise socioeconómica e os custos crescentes de manutenção de um exército inchado.
Com a proliferação das unidades da AFP nas frentes guerrilheiras, cada vez mais partes do inimigo ficam expostas, criando alvos vulneráveis que o NPA pode atacar.
NA – Quais têm sido os principais reveses que a Revolução enfrentou nos últimos meses — sejam eles militares, políticos ou organizativos — e como respondeu o movimento a essas dificuldades?
MV –A luta armada revolucionária sofreu algumas perdas significativas nos últimos anos, resultado da auto-restrição do NPA, que o tornou vulnerável à estratégia inimiga de cerco gradual, combinada com o que este denomina de operações militares “focadas e sustentadas”.
A principal resposta tem sido a reorganização das unidades do NPA, de modo a concentrar-se mais na expansão da sua base de massas através da realização de trabalho de massas e do lançamento de campanhas de massas antifeudais e antifascistas. O inimigo reagiu dividindo as suas unidades e montando operações de menor dimensão, que são mais vulneráveis às ofensivas tácticas do NPA.
Os ganhos concretos resultantes destes ajustamentos deverão tornar-se mais visíveis dentro de alguns anos.
NA – Têm denunciado as tentativas do velho Estado filipino e dos imperialistas de declarar como “pacificadas” zonas que continuam sob influência revolucionária. Poderia explicar como funciona, na prática, este processo de “pacificação” e quais os seus efeitos concretos sobre as comunidades locais?
MV – Para declarar determinadas zonas como “livres da insurgência”, o Estado reaccionário sob Marcos ordenou às suas forças militares que impusessem a lei marcial em milhares de aldeias rurais do país. Na prática, isto significa colocar essas aldeias sob administração militar. Tal assume a forma de bloqueios às comunidades, controlo da população através de recolheres obrigatórios, restrições à deslocação e ao comércio (incluindo o controlo dos alimentos, supostamente para impedir que as pessoas forneçam comida aos guerrilheiros), limitação do tempo de trabalho dos camponeses nas suas terras (alegadamente para evitar que se encontrem com o NPA), entre outras medidas. A população é submetida a assédio constante.
Em muitas aldeias, todos os adultos são presumidos como apoiantes do NPA e tornam-se, assim, alvos da chamada “campanha de rendição”. Soldados armados “visitam” as casas no meio da noite para ameaçar a vida ou a liberdade das pessoas. As AFP realizam operações de bombardeamento aéreo e de artilharia nas proximidades das comunidades para as aterrorizar.
As operações de cerco ou de confinamento da AFP tiveram efeitos profundamente negativos sobre os meios de subsistência das populações, assim como sobre o seu moral e saúde mental.
No entanto, ao contrário do seu objectivo de reprimir o povo, a ofensiva fascista e os abusos das forças reaccionárias apenas conseguem incitar ainda mais o povo a resistir com maior determinação. Perante a injustiça gritante, o abuso de poder e a violação dos direitos democráticos, as amplas massas revolucionárias estão mais do que nunca decididas a lutar lado a lado com o Partido e o NPA.
NA – De que forma o CPP e o NPA aprofundaram a fusão entre o marxismo-leninismo-maoismo e a realidade concreta das massas operárias, camponesas e populares? A Terceira Campanha de Rectificação tem desempenhado um papel activo nesse processo?
MV– O processo de fusão entre o marxismo-leninismo-maoismo (MLM) e as condições concretas das Filipinas constitui a base fundacional do Partido Comunista das Filipinas. Esta fusão encontra expressão nos documentos fundamentais do Partido, bem como nos principais escritos de Ka Joma Sison (presidente fundador do Comité Central do CPP), que utilizam o MLM como guia teórico para analisar as condições semicoloniais e semifeudais do país e traçar o plano para levar a cabo a revolução democrática popular.
O actual movimento de rectificação apela a um vigoroso movimento de estudo para rever e reafirmar os princípios básicos do MLM, tal como expostos tanto nos escritos clássicos de Marx, Engels, Lenine, Estaline, Mao e outros grandes pensadores comunistas, como nos documentos fundamentais do Partido e nos escritos de Ka Joma. Através destes esforços, procura-se elevar o nível de conhecimento teórico marxista-leninista-maoista dos quadros e militantes do Partido, a fim de aprofundar a sua compreensão das condições concretas das Filipinas, bem como das suas áreas específicas de trabalho.
Parte do trabalho de cada comité do Partido e de cada unidade do NPA consiste em realizar “investigação social e análise de classes” (SICA) nas áreas ou sectores que lhes são atribuídos. Orientados pelo MLM, as condições concretas das massas — a sua situação e os seus problemas — são documentadas e estudadas. A SICA serve de base para planear o trabalho de massas, isto é, para agitar, organizar e mobilizar o povo. Serve também para enriquecer o trabalho de propaganda e educação, dando às análises gerais e às palavras de ordem do Partido uma forma mais concreta, galvanizando as massas e incitando-as a participar activamente no trabalho revolucionário, à medida que percebem como este se relaciona directamente com as suas condições de vida.
O actual movimento de rectificação identificou a realização da SICA como uma tarefa crucial no programa de acção de cada comité do Partido e de cada unidade do NPA. Trata-se de uma correcção de falhas passadas, em que esta tarefa não foi devidamente valorizada, o que resultou, entre outros problemas, numa propaganda estagnada e pouco inspiradora e num trabalho organizativo mecânico (como seguir um manual passo a passo para formar uma organização).
NA – Que papel estratégico desempenham hoje as massas rurais, não apenas como base de apoio, mas como agentes activos na formulação e liderança da luta revolucionária?
MV – As massas camponesas e o movimento de massas revolucionário no campo desempenham um papel crucial na guerra popular. As massas camponesas, em particular a maioria dos camponeses pobres e trabalhadores agrícolas, não constituem uma base de apoio passiva. Elas desempenham um papel político e militar activo essencial na condução da guerra.
A guerra popular é um empreendimento revolucionário político-militar de massas. Sem a participação massiva das massas camponesas e de outras classes democráticas, a guerra popular transforma-se numa mera questão militar. Se a guerra popular for reduzida a uma luta puramente militar, será incapaz de progredir de um nível para outro, ficará vulnerável ao cerco do inimigo e não resistirá à força militar superior deste.
No campo, o Partido dirige o NPA, bem como outros mecanismos não armados, para conduzir a guerra popular. A luta armada é a forma principal de combate, que é combinada e coordenada com formas de luta não armadas. As formas não armadas de luta combinam meios legais e ilegais, abertos e secretos. Nas áreas rurais, o Partido incita, organiza e lidera as massas camponesas na realização de lutas de massas antifeudais e antifascistas, na construção da sua organização revolucionária de massas e no estabelecimento dos seus órgãos de poder político. O Partido constrói também unidades de milícias populares a nível de aldeia, que realizam guerra de guerrilhas generalizada em coordenação com as unidades de tempo integral do NPA.
NA – Que formas de solidariedade internacional são actualmente valiosas para o avanço da Revolução — seja da Europa, América Latina, África ou outras regiões?
MV– O Partido reconhece a importância de gerar apoio político internacional ao movimento revolucionário nas Filipinas. Isto traduz-se principalmente em ajudar a aumentar a consciência das pessoas em todo o mundo sobre as condições opressivas e exploradoras no país: a profunda desigualdade social, a corrupção e podridão do Estado dominante — particularmente sob o regime fantoche de Marcos —, os abusos dos direitos humanos e do direito internacional humanitário cometidos pelas forças armadas fascistas, as lutas dos trabalhadores, camponeses e outros sectores democráticos, a justeza e a necessidade de levar a cabo a guerra popular, entre outros.
O Partido e as forças revolucionárias no país valorizam o apoio moral e político, bem como qualquer forma de apoio material, à revolução filipina.
NA – Como avalia a resposta do governo de Marcos Jr. às crescentes ofensivas revolucionárias? Existem mudanças na doutrina contrarrevolucionária em comparação com administrações anteriores?
MV – Embora não se possa dizer que exista uma “ofensiva revolucionária crescente” nas Filipinas neste momento, podemos, de facto, observar que o NPA tem sido cada vez mais eficaz a resistir, frustrar e antecipar as operações ofensivas em grande escala e os ataques armados ordenados pelo regime fascista de Marcos. Algumas unidades do NPA têm infligido um número crescente de baixas ao inimigo.
O regime de Marcos, sob a direcção dos EUA, intensificou as suas ofensivas militares e a campanha de repressão contra o NPA e as massas camponesas nas frentes guerrilheiras, especialmente após declarar, a 28 de Julho passado, que “já não existem grupos guerrilheiros” no país. Marcos está a investir milhares de milhões de pesos em ofensivas militares, mobilizando 4 a 5 batalhões para realizar operações incessantes de “procura e destruição” contra um pelotão ou esquadrão do NPA. O objectivo é desgastar o NPA e mantê-lo em movimento, na esperança de engajar as suas unidades em batalhas decisivas. Ao adaptar a política de aprofundar ainda mais as raízes entre as massas e manter elevada disciplina guerrilheira, o NPA tem frustrado, em grande medida, as ofensivas intensificadas do inimigo.
Não há diferenças fundamentais ou qualitativas na doutrina contrarrevolucionária do actual regime fascista de Marcos em comparação com os anteriores regimes reaccionários. Todos os regimes passados seguiram a doutrina contrainsurgência dos imperialistas norte-americanos, perseguida e implementada principalmente através do controlo das forças armadas locais.
NA – Qual tem sido o papel das Forças Armadas das Filipinas (AFP) e da Polícia Nacional (PNP) na repressão actual? Como tenta o regime equilibrar a violência reaccionária patrocinada pelo Estado com políticas de propaganda ou assistência social para manter o apoio popular?
MV – As AFP têm sido a principal arma do imperialismo norte-americano e do Estado neocolonial das classes dominantes reaccionárias para suprimir a luta do povo filipino pela libertação nacional e social. O Estado fantoche utiliza também a Polícia Nacional das Filipinas como força secundária, complementando as AFP nas operações de combate, bem como nas operações de inteligência e guerra psicológica.
Embora o Estado reaccionário recorra principalmente à violência armada e a métodos coercivos na repressão contrarrevolucionária, utiliza igualmente propaganda e meios não armados para se legitimar aos olhos do povo, justificando assim a sua repressão armada. Recorrendo também a assistência social, como o programa de “transferência condicional de dinheiro” concebido e financiado pelo Banco Mundial, e a uma série de outros programas de “rede de segurança”, procura apaziguar as populações.
O regime adaptou o Manual de Contrainsurgência dos EUA e os chamados “whole of government approach” e “whole of nation approach”. Desde 2017, estabeleceu a chamada Força-Tarefa Nacional para Erradicar o Conflito Armado Comunista Local (o notório NTF-Elcac), em que várias agências do governo são colocadas sob a liderança militar (ou têm antigos militares à frente dessas agências), de forma a alinhar as suas prioridades e programas com os objectivos da contrainsurgência.
NA – O movimento tem denunciado crimes ambientais e deslocações forçadas promovidos por empresas mineiras. Poderia partilhar exemplos recentes e o seu impacto concreto sobre o povo trabalhador? Que formas de organização popular têm os revolucionários promovido para defender o ambiente, o território e os direitos dos povos indígenas face ao saque imperialista?
MV – As empresas mineiras estão entre os maiores saqueadores do ambiente. As suas operações causam erosão do solo, deslizamentos de terra, assoreamento, inundações generalizadas nas planícies, destruição dos meios de subsistência e mortes. Envenenam rios e águas subterrâneas com os resíduos da mineração ou rejeitos. São também das mais implacáveis na repressão à resistência, empregando tanto os seus capangas armados privados como o exército.
A entrada das empresas mineiras provoca o deslocamento de comunidades. Em Masbate, mais de 20.000 residentes em pelo menos 15 aldeias do município de Aroroy estão ameaçados de serem removidos das suas comunidades pela Filiminera Mining Company (40% detida pela empresa canadiana B2Gold Inc). Em Surigao del Norte, cerca de 60.000 residentes estão ameaçados de deslocamento devido a operações planeadas pela Philex Mining. Comunidades indígenas estão também a ser deslocadas em Surigao del Sur por operações de mineração de níquel. Em Nueva Vizcaya, os residentes opõem-se à exploração mineira planeada pela empresa britânica Woggle Corporation. Recentemente, ergueram barricadas para impedir a entrada da multinacional Oceana Gold.
O Partido apoia todas as formas de organização de defensores ambientais, bem como o movimento de grupos de minorias étnicas para defenderem as suas terras ancestrais contra a entrada de empresas mineiras destrutivas, bem como plantações, projectos de ecoturismo, projectos energéticos, incluindo os chamados de “energia verde”, entre outros. Existem também organizações escolares urbanas que defendem o património do país, lutam pela protecção do ambiente e apoiam a luta das comunidades locais contra empresas mineiras e outras actividades destrutivas.
Ao mesmo tempo, o Partido mobiliza o NPA para fazer cumprir as políticas ambientais do governo democrático popular para a protecção do ambiente. Nos últimos anos, unidades do NPA têm levado a cabo sanções e acções punitivas contra empresas mineiras, desactivando ou destruindo os seus equipamentos de mineração ou de terraplanagem, confiscando armas e outros meios para as obrigar a cumprir a lei, ou punindo-as pelas suas violações e transgressões.
NA– Qual é o papel actual das mulheres e da juventude no combate, na produção e na construção do poder popular revolucionário?
MV – As mulheres e a juventude desempenham um papel crucial na guerra popular. Nas áreas rurais, paralelamente às associações de camponeses (das quais também são membros), são criadas secções locais de organizações de massas revolucionárias de mulheres (Makibaka) e da juventude (KM ou Kabataang Makabayan), como componentes fundamentais para a constituição do Comité Revolucionário do Barrio (Aldeia), órgão local de poder político. Nas cidades, também são criadas secções de Makibaka e KM, juntamente com organizações de massas revolucionárias de trabalhadores, semiproletários e outros.
É importante que sejam estabelecidas organizações de mulheres para combater a cultura feudal e burguesa que impede a participação feminina na luta revolucionária. Estas organizações elevam a consciência das mulheres sobre a necessidade de lutar pela igualdade de direitos entre homens e mulheres e de fortalecer a democracia nas fileiras revolucionárias. No Partido e nas organizações revolucionárias, as mulheres têm direitos e oportunidades iguais. No NPA, treinam e combatem ao lado dos homens.
Ao mesmo tempo, são implementadas políticas para as proteger da discriminação de género.
O Partido produziu cursos de massas especiais sobre a situação e o papel específico das mulheres e da juventude na luta revolucionária. Existem também as Diretrizes do Partido sobre o Casamento, que propõem princípios revolucionários nas relações entre os sexos, garantindo a protecção dos direitos das mulheres. Estes cursos são estudados por todas as forças organizadas, independentemente do género ou da idade.
A participação da juventude na luta revolucionária é importante, pois traz vigor às diferentes áreas de trabalho. Os jovens juntam-se às milícias da aldeia e são recrutados e treinados como combatentes e comandantes a tempo inteiro do NPA. Podem também ser eleitos para o comité revolucionário do barrio, bem como para os comités dirigentes do Partido.
NA – Existem iniciativas culturais, como projectos musicais, literários ou artísticos, que o movimento procura reforçar ou expandir como parte da luta ideológica e do envolvimento com as bases populares?
MV – A vitalidade do movimento revolucionário reflecte-se na diversidade de iniciativas culturais que produz. A guerra popular serve como material prático para poemas e desafios poéticos, canções, sketches, peças de teatro, ilustrações, pinturas, entre muitas outras formas. A massa de quadros do Partido, combatentes Vermelhos e activistas de organizações de massas actua como artistas do povo. São incentivados a expressar artisticamente ideias revolucionárias através de diversas formas ou meios culturais.
Através destas formas artísticas e culturais, os artistas revolucionários expõem as realidades de opressão e exploração vividas diariamente pelo povo. O movimento cultural revolucionário sustenta que é o povo que faz a história e exalta as massas revolucionárias por resistirem ao imperialismo, feudalismo e ao capitalismo burocrático. Por diversos meios de expressão cultural, os mártires e heróis da revolução filipina recebem tributo como modelos a emular.
O grupo Artista at Manunulat para sa Sambayanan (Armas), uma organização aliada da NDF, publica anualmente o folio literário Ulos, para dar destaque a novas obras de arte e literatura. As secções regionais e locais de Armas também produzem os seus próprios folios culturais ou literários.
Ao mesmo tempo, são criadas secções de Armas ou de outras organizações culturais a nível de aldeia. Estas organizações realizam formações e programas formais para promover a cultura revolucionária.
Uma parte importante do trabalho cultural envolve a alfabetização e a aprendizagem da matemática entre as massas camponesas, activistas, quadros e combatentes Vermelhos. Aulas regulares são realizadas nas unidades do NPA. Nas aldeias, as unidades do NPA também realizam aulas para crianças e adultos.
NA – Quais são as principais lições aprendidas ao longo de uma das mais longas Guerras Populares do mundo?
MV– A lição fundamental na condução da guerra popular prolongada nas Filipinas é a importância da liderança do Partido Comunista. O Partido utiliza o marxismo-leninismo-maoismo como guia teórico para traçar a estratégia e tácticas, bem como o plano para conduzir a guerra popular. Sem a liderança do Partido Comunista das Filipinas, não pode haver guerra popular. O Partido exerce liderança absoluta sobre o Novo Exército Popular (NPA). Isto é uma expressão prática do princípio de a política dirigir e orientar a luta militar.
Entre outras lições-chave, podemos citar:
a) que a guerra popular é um movimento político-revolucionário de massas e que, para avançar, deve combinar luta armada com luta política, sendo a luta armada a forma principal de luta para concretizar a tarefa revolucionária central de tomar o poder do Estado;
b) que a luta pela terra constitui o conteúdo democrático principal da revolução democrática popular, ao atender à demanda central do campesinato, que forma a maior parte do povo filipino;
c) que a guerra popular integra a luta armada, a luta pela revolução agrária e a construção da base de massas no campo, sendo a revolução agrária o elo chave para fortalecer o exército do povo e expandir a base revolucionária nas zonas rurais, rodeando o centro do poder reaccionário nas cidades;
d) que é possível conduzir a guerra popular num país atrasado e agrário como as Filipinas, onde vastas áreas rurais não estão sob controlo político central do Estado reaccionário;
e) que é possível conduzir a guerra popular num país arquipelágico, adaptando o método de liderança centralizada e operações descentralizadas;
f) que é possível conduzir a guerra popular sem uma retaguarda física ou apoio externo de um poder socialista, recorrendo à autossuficiência;
g) que é possível construir um exército do povo de baixo para cima, travando guerra de guerrilhas para enfraquecer o inimigo parte a parte, atacando os seus pontos fracos e tomando armas para armar mais combatentes Vermelhos;
h) que o exército do povo deve exercer flexibilidade na dispersão, concentração e deslocamento, equilibrando a expansão e a consolidação das suas áreas-base;
i) que o grau de concentração das unidades do exército do povo é determinado pela extensão horizontal da sua base de massas; e assim sucessivamente.
NA – Como prevê os próximos anos da luta, em termos de expansão territorial, fortalecimento das bases de apoio e possível coordenação com núcleos urbanos?
MV– O Partido pretende expandir e consolidar consolidar ainda mais a sua base de massas a nível nacional, mobilizando as lutas de massas antifeudais e antifascistas no campo, reforçando as frentes guerrilheiras, expandindo e consolidando o exército do povo, e revitalizando as lutas políticas e económicas anti-imperialistas e anti-capitalistas burocráticas nas cidades. O Partido procura aumentar o seu número de militantes e das organizações de massas revolucionárias, de forma a abranger áreas ainda mais vastas em todo o país.
NA – Que mensagem gostaria de transmitir ao público internacional solidário com a vossa causa, especialmente à juventude e aos militantes que veem a Revolução Filipina como uma fonte concreta de inspiração?
MV – Gostaríamos de expressar a nossa mais profunda gratidão aos amigos internacionais da revolução filipina pelo seu compromisso e apoio contínuo à luta do povo filipino pela democracia nacional e pela sua perspectiva socialista.
Aspiramos a que todos os povos oprimidos e explorados de todos os países do mundo conduzam a sua luta revolucionária e travem a luta comum contra o seu maior inimigo — o imperialismo dos EUA e todas as forças do fascismo e da reacção.
As forças proletárias revolucionárias de todo o mundo devem consolidar e fortalecer, ou estabelecer, partidos comunistas sobre a base teórica e ideológica do marxismo-leninismo-maoismo. A liderança e orientação do proletariado através do seu partido é a chave para avançar as revoluções democrática popular e socialista.
Perante a crise internacional e doméstica cada vez mais profunda do imperialismo e das classes dominantes locais, as forças revolucionárias nas Filipinas estão mais do que determinadas a avançar com a causa revolucionária, não importando quão difícil seja ou quanto tempo leve. Estamos certos de que, através do movimento de rectificação que o Partido está a levar a cabo, veremos a revolução filipina avançar de forma integral nos próximos anos, acompanhada pelo ressurgimento global da resistência revolucionária contra o imperialismo e toda a reacção.
