
Foto: Ashraf Amra/Anadolu Agency
Republicamos material originalmente publicado na imprensa popular e democrática brasileira A Nova Democracia, com algumas alterações linguísticas para facilitar a leitura.
O Hamas emitiu ontem (03/10) sua resposta à proposta de “paz” de Donald Trump para a Faixa de Gaza. No comunicado, a organização da Resistência Nacional afirma que, após consultas em seus órgãos e junto a outras forças da resistência, concluiu favorável à libertação de todos os reféns de “Israel” em troca de prisioneiros palestinianos nos termos estabelecidos, e favorável à entrega da administração da Faixa de Gaza a um “corpo nacional palestiniano independente”.
O conteúdo da resolução do Hamas em resposta à proposta imperialista reafirma os mesmos eixos da “Declaração de Pequim”, acordo estabelecido por diferentes facções palestinianas em apoio à Resistência Nacional Palestiniana e na qual prevaleceu um caráter avançado, em julho de 2024. Naquela ocasião, foi proposto o acordo de uma “unidade nacional Palestiniana abrangente que inclua todas as facções palestinianas” para a Faixa de Gaza. Sobre esta unidade nacional Palestiniana abrangente, o Hamas afirma no término do comunicado que “fará parte dela e contribuirá com total responsabilidade”, o que se impõe ao plano de Donald Trump, segundo o qual o Hamas deixaria a Faixa de Gaza e a mesma seria administrada por um “conselho” centralizado por ele mesmo e pelo britânico sionista Tony Blair.
Sobre a devolução dos reféns israelitas, o Hamas declarou-se favorável desde que seja feita a soltura dos milhares de prisioneiros palestinianos encarcerados nas masmorras da entidade sionista. A troca de reféns por prisioneiros palestinianos, ao longo das negociações, sempre foi sabotada pela entidade sionista, no propósito de evitar a libertação de prisioneiros palestinianos e justificar o prolongamento da guerra sem o cessar-fogo inerente.
O pronunciamento da Resistência ocorre após o “ultimato” de Trump, dado no último dia 30/9, em que o genocida concedia “três a quatro dias” para que o Hamas aceitasse os termos, sob pena de dar à entidade sionista “Israel” total apoio para “terminar o trabalho” de aniquilar a resistência. Até o momento, o governo ianque não se pronunciou sobre a resposta palestiniana.
O patético plano original de Trump, elaborado em conluio com o führer nazi-sionista Benjamin Netanyahu, contém “20 pontos” que resumem a velha e carcomida cartilha imperialista, centrando na entrega total das armas pelo Hamas, e a criação de um “Conselho da Paz” liderado pelo próprio Trump e pelo ex-premiê britânico Tony Blair (o carniceiro de Bagdá), ambos históricos arquitetos da guerra contra os povos. A “proposta” promete transformar Gaza em uma “zona livre de terror”, o que, em outras palavras, significa uma Gaza sem sua Resistência armada. A resposta da Resistência Palestiniana, portanto, num primeiro momento, parece frustrar as expectativas ianques.
Antes do pronunciamento do Hamas, a Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP) havia convocado consultas com diversas facções da Resistência e uma reunião nacional urgente, advertindo que era necessário unificar a posição da Resistência Palestiniana diante de um plano que qualificam como “perigoso” e “destinado a prolongar a guerra, não a encerrá-la”.
Pesquisas recentes do Centro Palestiniano para Pesquisas e Levantamentos Políticos (PCPSR) confirmam que a maioria esmagadora do povo palestiniano mantém apoio à Resistência Palestiniana mesmo após quase dois anos de genocídio. Em levantamento de junho de 2024, 73% dos palestinianos declararam aprovar as operações da Resistência, índice que cresceu em relação aos meses anteriores. Em Gaza, o apoio à luta armada subiu 17 pontos, e a confiança no Hamas também avançou: 67% acreditam que o movimento sairá vitorioso, 61% apoiam sua permanência no governo do enclave e 75% expressaram satisfação com sua atuação. Esses números reforçam que, apesar da devastação, a capitulação da luta armada nunca foi uma possibilidade real para o povo palestiniano.
Leia na íntegra a tradução não-oficial do comunicado.
Em Nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso
Sobre a resposta do Hamas à Proposta do Presidente dos EUA, Trump
Em um esforço para deter a agressão e a guerra de extermínio travadas contra nosso povo fiel na Faixa de Gaza, e com base na responsabilidade nacional e na preocupação com os fundamentos, direitos e interesses supremos de nosso povo, o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) realizou consultas aprofundadas dentro de suas instituições de liderança, amplas consultas com forças e facções palestinianas e consultas com mediadores e amigos para alcançar uma posição responsável ao lidar com o plano do Presidente dos EUA, Donald Trump.
Após um estudo aprofundado, o movimento tomou sua decisão e apresentou a seguinte resposta aos irmãos mediadores:
O Movimento de Resistência Islâmica, Hamas, aprecia os esforços árabes, islâmicos e internacionais, bem como os esforços do Presidente dos EUA, Donald Trump, que pedem o fim da guerra na Faixa de Gaza, a troca de prisioneiros, a entrada imediata de ajuda humanitária, a rejeição da ocupação da Faixa de Gaza e o deslocamento do nosso povo palestiniano.
Nesse contexto, e a fim de alcançar a cessação das hostilidades e a retirada completa da Faixa de Gaza, o movimento anuncia seu acordo para libertar todos os prisioneiros israelitas, vivos e mortos, conforme a fórmula de troca contida na proposta do Presidente Trump, desde que as condições de campo para a troca sejam atendidas. Nesse contexto, o movimento afirma sua prontidão para iniciar imediatamente as negociações por meio dos mediadores para discutir os detalhes desse acordo.
O movimento também renova seu acordo para entregar a administração da Faixa de Gaza a um corpo palestiniano de independentes (tecnocratas), com base no consenso nacional palestiniano e no árabe e islâmico.
As demais questões mencionadas na proposta do Presidente Trump sobre o futuro da Faixa de Gaza e os direitos inerentes do povo palestiniano está vinculada a uma posição nacional abrangente e baseada em leis e resoluções internacionais relevantes. Elas devem ser discutidas em uma estrutura nacional Palestiniana abrangente. O Hamas fará parte dela e contribuirá com total responsabilidade.
Movimento de Resistência Islâmica – Hamas